O silêncio absoluto é uma condição rara, presente apenas em locais projetados para bloquear totalmente qualquer som externo. Nessas situações, a ausência de estímulos auditivos provoca mudanças perceptíveis no funcionamento do corpo e do cérebro.
Em espaços como câmaras anecoicas, as ondas sonoras são completamente absorvidas. Isso faz com que o sistema nervoso se ajuste para lidar com a falta de referências acústicas, o que pode influenciar o equilíbrio, a noção de tempo e até o estado emocional.
Pesquisas mostram que, sem sons externos, o cérebro passa a perceber com mais intensidade ruídos internos, como batimentos cardíacos e respiração. Esse fenômeno, embora natural, pode gerar estranhamento, principalmente em períodos prolongados de silêncio.
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“Sem estímulos auditivos externos, o sistema nervoso central aumenta automaticamente a sensibilidade dos circuitos auditivos para ‘procurar’ sons, um processo chamado upregulation sensorial”, explica o neurocientista André Leão, de São Paulo.
Sem referências sonoras externas, o cérebro pode alterar a percepção do tempo, fazendo minutos parecerem mais longos, e reduzir a atividade nas áreas relacionadas à audição, que permanecem ativas em nível básico, detalha o neurocirurgião Guilherme Rossoni, que atende em São Paulo.
“Mesmo no silêncio total, o nosso cérebro continua ativo. Um EEG poderia mostrar uma redução na atividade das áreas relacionadas à audição, já que não possui sons para processar. Mas, essas regiões não ‘desligam’ completamente, continuam em funcionamento básico, aguardando estímulos”, detalha Rossoni.
Além disso, a privação prolongada de sons pode levar o cérebro a criar percepções internas, como alucinações auditivas e visuais, além de modificar o humor, gerando ansiedade e desconforto em pessoas mais sensíveis.
A câmara anecoica foi inventada na década de 1940 por Leo Beranek, em colaboração com Sleeper, na Universidade de Harvard, com financiamento do governo americano
Principais sintomas de ficar totalmente em silêncio
Aumento da percepção de sons internos;
Distorção da noção de tempo;
Sensação de desorientação;
Perda momentânea de equilíbrio;
Ansiedade ou desconforto psicológico;
Alucinações auditivas e visuais;
Redução da atividade cerebral auditiva;
Alterações no humor.
Por que ficamos desconfortáveis com o silêncio total
O cérebro humano está habituado a receber uma constante variedade de estímulos sensoriais para manter seu funcionamento equilibrado e sua percepção do ambiente estável. Quando ficamos em um ambiente de silêncio absoluto, essa rotina é quebrada, o que representa um desafio para o sistema nervoso central.
Sem sons externos para orientar a atenção e organizar as informações sensoriais, o cérebro intensifica a sensibilidade dos circuitos auditivos em busca de qualquer sinal sonoro, mesmo que sejam sons internos do próprio corpo, como batimentos cardíacos ou a respiração.
Esses ruídos normalmente são filtrados e ignorados, mas no silêncio absoluto eles se tornam muito evidentes, o que pode causar desconforto para quem não está acostumado.
Muitas pessoas relatam uma sensação de desorientação, como se perdessem o ponto de referência para se situar no ambiente. A situação pode aumentar sentimentos de ansiedade, inquietação e até uma espécie de “claustrofobia auditiva”, em que o silêncio passa a ser percebido como algo opressivo e incômodo.
Quanto tempo é seguro permanecer no silêncio total
Para a maioria das pessoas, períodos curtos em silêncio absoluto, que vão desde alguns minutos até algumas horas, não costumam gerar efeitos negativos duradouros. Nesses intervalos, o corpo e o cérebro conseguem se adaptar sem maiores problemas.
Porém, quando o silêncio se prolonga por várias horas consecutivas, especialmente sem o auxílio de outros estímulos sensoriais, podem aparecer reações como ansiedade crescente, sensação de confusão mental e uma alteração na percepção do tempo, que passa a parecer distorcida.
Esses efeitos, na maioria dos casos, são temporários e desaparecem quando o indivíduo retorna a um ambiente com sons normais. Os especialistas ressaltam que o silêncio absoluto é uma condição incomum e que o organismo precisa de algum nível de estímulo para se manter em equilíbrio.
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