O humorista Whindersson Nunes, em entrevista ao Fantástico, revelou ter um QI de 138, colocando-o entre os 2% da população com habilidades cognitivas significativamente acima da média. No entanto, como especialistas alertam, esse número sozinho não define privilégios absolutos. Longe do estereótipo do gênio sempre bem-sucedido, a superdotação envolve também desafios emocionais e cognitivos que muitas vezes passam despercebidos.
“Na realidade, muitos superdotados enfrentam sobrecarga mental, insônia, crises existenciais, ansiedade e até depressão”, explica Fabiano de Abreu Agrela, pós-PhD neurocientista e mestre em psicologia.
Superdotação não é só matemática
A fala de Whindersson contribui para quebrar outro mito: de que superdotados se destacam apenas em lógica, matemática ou ciências exatas. A inteligência elevada se manifesta de formas diversas, incluindo artes, música, linguagem e criatividade, como é o caso do humorista.
Assim, entender a pluralidade da superdotação ajuda a desmistificar o conceito de que somente quem se sobressai em exatas merece o título de gênio.
O Brasil ainda está atrasado na compreensão da superdotação
Segundo especialistas, o país enfrenta atraso no reconhecimento e no tratamento das Altas Habilidades. Faltam políticas públicas robustas, protocolos padronizados e formação específica de profissionais.
“Relatórios internacionais, como os da IIS Society, identificam erros na interpretação de testes de QI, especialmente quando não há padronização. Isso revela o despreparo técnico para lidar com uma condição que exige precisão e compreensão ampla”, aponta o neurocientista.
É importante destacar que a maioria dos superdotados não apresenta comorbidades como TDAH ou autismo. Entretanto, quem busca avaliação muitas vezes o faz devido a comportamentos disfuncionais que causam sofrimento ou prejuízo social, não apenas por curiosidade intelectual.
“A superdotação não é uma patologia, mas quando há sofrimento associado, é essencial identificar fatores que vão além da inteligência”, completa Fabiano.
A mente que não desliga
Whindersson admitiu: “Não consigo controlar meus pensamentos”, descrevendo um sintoma frequente entre superdotados: a hiperatividade cognitiva. Essa atividade mental constante pode gerar exaustão, insônia, procrastinação seletiva e sofrimento emocional.
“O excesso de cognição, se não for compreendido ou gerido, compromete a saúde mental. Muitos superdotados desenvolvem crises existenciais precoces, sensação de inadequação social e cansaço mental recorrente”, explica o especialista.
Por isso, um diagnóstico correto e bem conduzido pode se tornar um ponto de virada. Ele ajuda o indivíduo a compreender sua estrutura cognitiva e emocional, favorecendo autoconhecimento e estratégias de equilíbrio.
“Saber que se tem Altas Habilidades é apenas o começo. O mais importante é aprender a gerir a mente, compreender os limites e desenvolver mecanismos de autorregulação. Esse é o verdadeiro caminho da alta performance saudável e sustentável”, finaliza Fabiano.
No encerramento da entrevista, Whindersson resumiu sua trajetória de forma reveladora:
“O que eu posso fazer? Me preparar para as piores fases e não deixar a melancolia dominar a minha mente.”
Resumo: A revelação de Whindersson Nunes sobre seu QI elevado reacende a reflexão sobre a superdotação, mostrando que inteligência não é sinônimo de privilégio. O diagnóstico correto e o autoconhecimento são essenciais para lidar com os desafios emocionais que acompanham Altas Habilidades, como ansiedade e hiperatividade cognitiva.
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