Estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca) indicam que o câncer de intestino, também chamado de colorretal, mata em média 21 mil brasileiros ao ano. Além de ser agressivo, o tumor é um perigo crescente para a saúde pública por conta do alto número de casos: estima-se que, globalmente, os diagnósticos crescerão 77% até 2050.
É por isso que a medicina tem buscado formas de deter o avanço da neoplasia e já se sabe que boa parte dos casos estão associados a uma dieta pouco saudável. Mas, assim como alimentos que aumentam o risco de desenvolvimento do tumor são comuns, é também no prato que pode estar a solução.
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Um estudo publicado na BMC Gastroenterology por pesquisadores chineses indicou que aumentar o consumo de brócolis e de outros vegetais crucíferos, como a couve de Bruxelas, couve-flor, couve, repolho e rúcula, pode reduzir a incidência do câncer colorretal.
A investigação, feita a partir da revisão de outros 17 estudos sobre a associação de tumores de intestino com a dieta, indica que a ingestão regular de vegetais da família pode reduzir o risco de desenvolver a doença em até 20%.
Sinais de alerta do câncer de intestino
Presença de sangue na evacuação, seja de vermelho vivo ou escuro, misturado às fezes, com ou sem muco.
Sintomas irritativos, como alteração do hábito intestinal e que provoca diarreia crônica e necessidade urgente de evacuar, com pouco volume fecal.
Sintomas obstrutivos, como afilamento das fezes, sensação de esvaziamento incompleto, constipação persistente de início recente, cólicas abdominais frequentes associadas a inchaço abdominal.
Sintomas inespecíficos, como fadiga, perda de peso e anemia crônica.
O papel protetor do brócolis e dos vegetais crucíferos
A pesquisa consolidou dados de saúde de 639 mil pessoas acompanhadas nos últimos anos, sendo que 97 mil delas tiveram câncer de intestino. O efeito protetor dos vegetais da família do brócolis foi mais evidente quando o consumo ficou entre 20 e 40 gramas por dia, menos do que dois talos do alimento.
Para os pesquisadores, a proteção foi tão evidente por que os vegetais concentram fibras, vitamina C e glucosinolatos. Os compostos químicos dão sabor picante aos crucíferos e são conhecidos por terem efeito anti-inflamatório no trato digestivo. Quando mastigados, eles liberam bioativos como o sulforafano, molécula estudada por seu efeito preventivo contra tumores.
A combinação entre as substâncias pode bloquear enzimas depositadas nas paredes do intestino e que ativam processos carcinogênicos, além de induzir a morte celular programada de células malignas e interromper o ciclo celular, freando o crescimento de células cancerígenas.
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Também conhecido como câncer de cólon e reto ou colorretal, abrange os tumores que se iniciam na parte do intestino grosso -chamada cólon -, no reto e ânus
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De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), a estimativa é de que o problema tenha provocado o óbito de cerca de 20 mil pessoas no Brasil apenas em 2019
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O mês de março é dedicado à divulgação de informações sobre a doença. Se detectado precocemente, o câncer de intestino é tratável e o paciente pode ser curado
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Os principais fatores relacionados ao maior risco de desenvolver câncer do intestino são: idade igual ou acima de 50 anos, excesso de peso corporal e alimentação pobre em frutas, vegetais e fibras
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Doenças inflamatórias do intestino, como retocolite ulcerativa crônica e doença de Crohn, também aumentam o risco de câncer do intestino, bem como doenças hereditárias, como polipose adenomatosa familiar (FAP) e câncer colorretal hereditário sem polipose (HNPCC)
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Doses de café pode reduzir em 30% risco de câncer de intestino
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Os sintomas mais associados ao câncer do intestino são: sangue nas fezes, alteração do hábito intestinal, dor ou desconforto abdominal, fraqueza e anemia, perda de peso sem causa aparente, alteração das fezes e massa (tumoração) abdominal
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O diagnóstico requer biópsia (exame de pequeno pedaço de tecido retirado da lesão suspeita). A retirada da amostra é feita por meio de aparelho introduzido pelo reto (endoscópio)
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O tratamento depende principalmente do tamanho, localização e extensão do tumor. Quando a doença está espalhada, com metástases para o fígado, pulmão ou outros órgãos, as chances de cura ficam reduzidas
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A cirurgia é, em geral, o tratamento inicial, retirando a parte do intestino afetada e os gânglios linfáticos dentro do abdome. Outras etapas do tratamento incluem a radioterapia, associada ou não à quimioterapia, para diminuir a possibilidade de retorno do tumor
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A manutenção do peso corporal adequado, a prática de atividade física, assim como a alimentação saudável são fundamentais para a prevenção do câncer de intestino
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Além disso, deve-se evitar o consumo de carnes processadas (por exemplo salsicha, mortadela, linguiça, presunto, bacon, blanquet de peru, peito de peru, salame) e limitar o consumo de carnes vermelhas até 500 gramas de carne cozida por semana
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Efeito varia por região do mundo
A análise dose-resposta mostrou que o efeito protetor começa a se manifestar a partir de 20 gramas diárias. O benefício atinge o ponto máximo até 40 gramas e se estabiliza entre 40 e 60 gramas, sem progressos relevantes além dessa faixa.
A equipe observou, além disso, que há diferenças regionais no tipo de vegetal crucífero e nos efeitos encontrados. Estudos da América do Norte e da Ásia registraram reduções mais claras no risco, enquanto pesquisas na Europa e na Austrália mostraram resultados menos consistentes. Segundo os cientistas, essas variações podem estar ligadas a diferenças de dieta, hábitos culturais ou métodos de coleta de dados.
Limites e próximos passos
Os pesquisadores ressaltam que, apesar dos sinais promissores, os resultados devem ser lidos com cautela. O estudo enfrentou limitações metodológicas para comparar os diferentes trabalhos analisados e variações na forma de medir a dieta dos participantes.
Além disso, a investigação destaca que fatores alimentares não são os únicos que afetam a manifestação e a evolução da doença. Diferente de outros elementos, como idade ou histórico familiar, a alimentação é modificável.
Mesmo com ressalvas de que o estudo não é uma recomendação nutricional, especialistas veem na pesquisa mais um indício da relevância da alimentação na prevenção do câncer. O mapeamento detalhado do consumo de vegetais pode guiar futuras orientações nutricionais.
Os autores defendem que novas pesquisas explorem o papel dos compostos bioativos dos crucíferos. A expectativa é que a ciência possa transformar esses achados em recomendações mais precisas de saúde pública.
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