Metade das famílias que recebem Bolsa Família deixa de buscar emprego, diz estudo

A ampliação recente do Bolsa Família pode ter causado um efeito contrário ao propagado por seus idealizadores: a retirada de milhões de brasileiros da força de trabalho.

Um estudo recente do FGV Ibre mostrou que, com os novos parâmetros do programa, uma em cada duas famílias beneficiadas deixa de procurar emprego, especialmente em faixas mais jovens da população e nas regiões mais pobres do país.

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O levantamento é assinado pelo economista Daniel Duque, com base em dados da PNAD Contínua, e analisa o impacto do novo desenho do programa — que desde 2023 elevou o valor médio do benefício para cerca de R$ 670 e ampliou a base de beneficiários para mais de 21 milhões de famílias.

Com isso, o orçamento saltou de R$ 35 bilhões em 2019 para cerca de R$ 170 bilhões anuais.

Homens jovens das regiões Norte e Nordesde são mais afetadas

Segundo o estudo, homens jovens (entre 14 e 30 anos) do Norte e Nordeste foram os mais afetados.

Entre os que se tornaram elegíveis depois da mudança na linha de corte (de R$ 210 para R$ 218 por pessoa), houve uma queda de 11% na participação no mercado de trabalho, além de reduções de 12% na taxa de ocupação e 13% na formalização do emprego.

“O benefício passou a representar cerca de 35% da renda mediana do trabalho no país. Antes, girava em torno de 15%. Isso tem impacto direto sobre o incentivo ao trabalho”, explica Duque.

Os dados mostram que o programa, como está desenhado, pode estar desestimulando a busca por emprego formal em determinados perfis populacionais.

Especialistas do FGV Ibre defendem que o Bolsa Família não deve funcionar como um substituto da renda do trabalho, mas como um suporte temporário que ajude os beneficiários a alcançar autonomia.

Novo Bolsa Família teria destoado do objetivo inicial

Para Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador do Ibre, a nova versão do programa se distancia do desenho original.

“Há espaço para reavaliar os efeitos do programa sobre o comportamento dos beneficiários, sem perder sua função social”, afirmou.

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O estudo também aponta caminhos para aperfeiçoamento. Entre as propostas está reduzir o valor do benefício básico, redirecionando os recursos para grupos mais vulneráveis, como mães solo e jovens sem acesso à educação.

“Se bem calibrado, o programa pode proteger os mais pobres e, ao mesmo tempo, estimular a qualificação e a inserção produtiva”, concluiu Duque.

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