Diante da desaceleração nas exportações consequente das tarifas impostas pelos EUA, indústrias do Brasil têm recorrido a férias coletivas para controlar despesas. Empresas dos segmentos madeireiro, calçadista e de armamentos enfrentam dificuldades para escoar a produção e lidam com acúmulo de estoques e contratos cancelados ou suspensos no mercado norte-americano.
No setor de madeira, companhias relatam a paralisação de operações devido à interrupção das vendas externas. A Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente informou, ao portal Uol, que fabricantes de compensados e pisos, entre outros produtos, agora buscam espaço para armazenar mercadorias que seriam destinadas aos Estados Unidos.
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Exemplo disso é a Millpar, segunda maior do ramo no país, que concedeu férias coletivas em sua unidade de Quedas do Iguaçu (PR). Na sequência, a companhia centralizou a produção em Guarapuava (PR) ao encerrar as atividades na primeira unidade na última terça-feira, 19.
“Estamos tomando decisões extremamente difíceis, mas necessárias para manter a sustentabilidade do negócio e preservar parcela significativa dos postos de trabalho”, afirmou Ettore Giacomet Basile, presidente da empresa.
De acordo com Paulo Pupo, superintendente da associação, as demissões seguem restritas a casos isolados, enquanto a maioria das empresas mantém as férias coletivas. O setor estima que ainda pode manter essa política por mais uma ou duas semanas antes de adotar medidas mais drásticas.
Outros setores também sentem os efeitos das restrições geradas pelas tarifas. Calçadistas decretaram férias aos funcionários, e a Polimetal, fornecedora da Taurus, afastou 33 dos 50 trabalhadores em São Leopoldo (RS). Em nota, a Taurus explicou que a decisão faz parte do plano de transferir parte da produção para os Estados Unidos para “minimizar os impactos da taxação” sobre produtos brasileiros.
Manutenção das tarifas gera risco de demissões
As férias coletivas são a primeira resposta das empresas para reduzir custos imediatos diante da queda das vendas e, ao mesmo tempo, proporcionar tempo para avaliar alternativas de médio prazo. Além disso, a medida reduz despesas trabalhistas, já que evita pagamentos extras no caso de demissões posteriores.
Se o cenário não mudar, a dispensa de funcionários pode se tornar inevitável. Empresários destacam que, sem a revisão das tarifas ou a conquista de novos mercados, resta ao governo federal autorizar medidas como a suspensão temporária de contratos de trabalho. Contudo, essa alternativa acarreta custos elevados com verbas rescisórias e indenizações.
Outras opções, como uso do banco de horas, antecipação de feriados e acordos com sindicatos, vêm sendo cogitadas, embora a legislação atual não preveja situações como pandemias ou tarifaços. Planos de demissão voluntária também surgem como alternativa para evitar litígios trabalhistas, já que o acordo impede ações judiciais posteriores.
Lideranças setoriais reivindicam atuação do governo
Algumas lideranças dos setores atingidos reconhecem pontos positivos no plano de contingência anunciado pelo governo federal na semana anterior. Entretanto, reivindicam medidas mais eficazes para preservar empregos, inspiradas nas adotadas durante a pandemia, e convocam o Executivo a negociar com os EUA.
A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados encaminhou, no último dia 15, propostas ao vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. A entidade sugere redução proporcional de jornada e salário, suspensão de contratos de trabalho por até 90 dias e uso de recursos federais para auxílio aos empregados.
O governo Lula publicou uma Medida Provisória que libera R$ 30 bilhões em crédito para compensar prejuízos dos exportadores, condicionando o acesso à manutenção dos postos de trabalho e prevendo benefícios tributários. Contudo, detalhes sobre a implantação das medidas ainda não foram definidos.
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