O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que os recentes atritos entre os governos Donald Trump e Lula têm relação com o interesse dos Estados Unidos nas terras raras e minerais críticos do Brasil — essenciais na criação de ímãs superpotentes, baterias de carros elétricos, turbinas e até telescópios espaciais, como explicamos aqui.
“Mesmo essa ingerência na vida política brasileira tem a ver, na minha opinião, com isso [terras raras]. Eles [EUA] precisam de um governo entreguista, porque é estratégico para eles. Como eles acham que a América Latina é o quintal dos Estados Unidos, isso não é uma percepção”, disse Haddad em entrevista ao canal TV GGN neste sábado (23).
Além do tarifaço de 50% sobre bens e produtos brasileiros, os estadunidenses também aplicaram a Lei Magnitsky ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, alegando censura contra cidadãos em plataformas digitais. Moraes também é relator de processos no STF envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro, que tem apoio de Trump.
Pressão externa em cima do Brasil e da América Latina
Segundo o ministro, a pressão dos estadunidenses recai sobre toda a América Latina. Ele relembrou um comentário feito pelo bilionário Elon Musk no ano passado sobre apoiar uma intervenção na Bolívia para garantir acesso às reservas de lítio no país;
“Você lembra quando teve uma tentativa de golpe na Bolívia, em que o Elon Musk disse, se precisar, nós temos que dar o golpe para pegar o lítio da Bolívia. Quer dizer, não é que eu estou imaginando coisas, mas [estava] nos jornais. Ele quer ser o maior produtor de veículo elétrico do mundo, a China está passando todo mundo [na produção], e aí ele precisa do lítio. Aí ele fala, se você não dá um golpe na Bolívia para pegar o lítio, tem que dar. Eles naturalizaram algo que não podia ser jamais tomado dessa forma”, destacou;
Para o ministro, o setor ainda carece de um marco regulatório que, segundo ele, colocará o Brasil em uma posição privilegiada em relação a outros países. Haddad acredita que há pouca concorrência, já que a China pretende usar suas reservas de 44 milhões de toneladas internamente.
“Aí nós temos o Vietnã e o Brasil, com muito minério e muitas terras raras. Os Estados Unidos, para você ter uma ideia, não têm 10% dos minerais críticos que o Brasil tem. Em relação à China, não têm 5%. Ou seja, a China tem 20 vezes mais, o Brasil tem mais de dez vezes mais do que têm os Estados Unidos”, frisou.
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De olho no futuro
A regulação das terras raras também pode favorecer a transformação digital no Brasil, na opinião do ministro. Ele pontuou o alto consumo de energia pela indústria de inteligência artificial (IA) e como isso terá impactos a longo prazo na gestão dos recursos naturais.
“Você não consegue produzir com os minerais típicos um chip moderno, uma GPU moderna, você não consegue. A Nvidia depende disso, a Microsoft depende disso, todas elas dependem disso. E nós temos que pensar em ter, também, as nossas empresas de tecnologia”, afirmou.
Segundo Haddad, o Ministério da Fazenda está trabalhando para reduzir a dependência externa no processamento de dados. Em maio, o governo anunciou que lançaria um plano focado em data centers com meta de atrair R$ 2 trilhões na próxima década.
“Você sabe que nós, hoje, mandamos para processar 60% dos nossos dados, são processados fora do Brasil. Imagina do ponto de vista de soberania, com as ameaças de imposto, o que isso pode significar? E, amanhã, uma pessoa que é autoritária pode querer prejudicar o Brasil”, pontuou.
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