Pesquisadores da Universidade Tulane, nos Estados Unidos, identificaram uma espécie de lagarto dos Estados Unidos que desenvolveu uma surpreendente resistência à intoxicação ao chumbo, vivendo tranquilamente com concentrações que seriam tóxicas para quase todos os animais e que chegam a ser 80 vezes superiores ao nível máximo de segurança em humanos.
Uma pesquisa divulgada em 19 de setembro na revista Environmental Research mostrou que os lagartos anoles marrons que vivem em Nova Orleans carregam as maiores taxas de chumbo no sangue já registradas em um animal vertebrado saudável.
Segundo os autores, as concentrações médias chegaram a 955 μg/dL, e um exemplar alcançou 3.192 μg/dL. Para comparação, níveis acima de 40 μg/dL já são considerados nocivos em humanos. Ainda assim, os répteis analisados permaneceram ativos.
“O surpreendente é que esses lagartos não estão apenas sobrevivendo, eles estão prosperando com uma carga de chumbo que seria catastrófica para a maioria dos outros animais”, afirmou Alex Gunderson, professor assistente da Escola de Ciências e Engenharia de Tulane, em comunicado à imprensa.
Leia também
Lagartos noturnos sobreviveram ao asteroide que extinguiu dinossauros
Saiba como funciona acelerador de partículas em que chumbo vira ouro
Acelerador de partículas na Europa consegue transformar chumbo em ouro
Copo Stanley é feito com chumbo? Entenda como o metal afeta a saúde
Adaptação inesperada dos lagartos invasores
Os anoles marrons, espécie invasora do Caribe, vivem na cidade de Nova Orleans desde os anos 1990. Nos últimos 20 anos, tornaram-se mais comuns do que os anoles verdes nativos. A presença dos lagartos nas áreas urbanas os expõe a solos historicamente contaminados sem prejuízo aparente.
A equipe liderada por Gunderson e pela doutoranda Annelise Blanchette testou equilíbrio, velocidade e resistência dos animais. Os resultados mostraram desempenho preservado mesmo diante de níveis extremos de contaminação.
“Esses animais estão funcionando em plena capacidade apesar dos níveis recordes de chumbo, o que os torna um dos animais mais tolerantes ao chumbo, se não o mais, conhecido pela ciência”, disse Blanchette.
Segredo da resistência pode estar no DNA
Análises de tecidos cerebrais e hepáticos revelaram alterações discretas. Genes ligados ao transporte de oxigênio e à regulação de íons metálicos estavam entre os mais afetados. A descoberta pode sugerir uma base molecular no DNA ds bichinhos para a resistência observada.
Em testes laboratoriais, os répteis suportaram concentrações dez vezes superiores às já extremas antes de apresentarem queda de desempenho. O limiar ultrapassou 10.600 μg/dL, valor considerado inédito em vertebrados.
“Precisamos reavaliar o que sabemos sobre os limiares de toxicidade em vertebrados”, afirmou Gunderson. “Se conseguirmos descobrir o que os protege, poderemos descobrir estratégias que ajudem a mitigar o envenenamento por metais pesados em humanos e outras espécies.”
Como o chumbo causa intoxicações?
O chumbo foi usado durante décadas em tintas e combustíveis e ainda contamina o solo em muitas cidades. Autoridades de saúde reconhecem que a exposição pode causar danos neurológicos, renais e hematológicos. Em humanos, valores acima de 25 μg/dL de concentração no sangue já representam riscos, especialmente em crianças e gestantes.
O metal não é processado pelo organismo e se aloja nos órgãos, especialmente no cérebro, fígado e rins. Ele afeta o sistema nervoso gerando intensas dores de cabeça e pode causar alterações de personalidade..
Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!