Novas evidências indicam que uma antiga civilização que habitou o leste do Equador há 1500 anos não foi dizimada por um vulcão, mas gradualmente declinou no decorrer das eras. Os motivos para o desaparecimento da “Cidade Perdida da Amazônia” ainda são um mistério, mas pesquisadores se aproximaram da resposta em um estudo publicado na revista científica Nature Communications.
Conhecido como povo Upano, os cidadãos dessa metrópole viveram por 1200 anos no Vale de Upano, um local de transição entre a Cordilheira dos Andes e a floresta amazônica. Mais de 7 mil estruturas conectadas por estradas em um complexo sistema guarda a história milenar desses habitantes andinos.
Imagem aérea do Vale do Upano, no Equador.
(Imagem: DIOHER_PAVAL / Wikimedia Commons)
Datações por radiocarbono anteriores indicaram que o vale foi ocupado pela primeira vez por volta de 700 a.C. Acreditava-se que o colapso dessa civilização tivesse ocorrido de forma repentina e dramática, entre 300 e 600 d.C.
Segundo essa hipótese, o fim do povo teria sido semelhante ao de Pompeia. A presença de uma camada de cinzas sobre as construções levou arqueólogos a sugerir que a região foi devastada por uma erupção do vulcão Sangay, localizado nas proximidades do vale.
Nova pesquisa contraria hipótese de uma “Pompeia Amazônica”
Na busca por testar a hipótese anterior, um grupo de pesquisadores analisou sedimentos encontrados próximos ao Lago Cormorán, onde os Upanos faziam plantações. A equipe não encontrou evidências de acúmulo de cinzas, contrariando a possibilidade de que cidade teria sofrido uma devastação repentina.
Os cientistas então juntaram evidências e formularam uma nova hipótese. A partir da análise dos grãos de pólen no lago, o grupo notou que a atividade agrícola na região parece ter diminuído gradualmente no decorrer dos séculos, até ser abandonada.
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Segundo o estudo, o auge dessa civilização ocorreu entre 500 a.C. e 200 d.C., quando as plantações de milho e a coleta de recursos florestais eram intensas. Plantas como os amieiros das matas ao redor foram intensamente cortados e replantados, provavelmente utilizados como lenha e materiais de construção.
Esse período de ouro pode ter sido melhor do que se pensava. As análises indicaram que a Cidade Perdida da Amazônia seria maior, já que há traços de que sua população modificou a vegetação ao redor em uma área de 10 quilômetros para além do principal sítio arqueológico.
Floresta retomou a cidade conforme habitantes a abandonaram
A decadência teria durado séculos. O exame dos polens revelou que a composição da floresta ao redor da cidade gradualmente se restaurou entre 200 e 550 d.C. Isso sugere uma diminuição da atividade humana na região.
A próspera cidade passou por um ciclo de decadência por 350 anos, segundo o artigo. Ao fim do período, a metrópole ancestral teria sido abandonada ao clima chuvoso e ao domínio da vegetação local.
Os pesquisadores ressaltam no estudo que, até o momento, não foram encontradas evidências que expliquem a decadência desse povo andino. Na espera de novas pesquisa, resta a dúvida do porquê uma cidade com tamanho planejamento e estrutura foi abandonada no decorrer dos séculos.
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