Imagens inéditas capturaram milhares de peixes bagres-abelha escalando uma cachoeira no Rio Aquidauana, em Mato Grosso do Sul. É a primeira vez que cientistas documentam detalhadamente o comportamento migratório dessa espécie rara de peixe.
O bagre-abelha, de corpo alaranjado com manchas pretas, mede menos de nove centímetros. Apesar do tamanho, foi filmado saltando por rochas escorregadias, em desníveis de até quatro metros de altura. A descoberta foi publicada no Journal of Fish Biology em 8 de agosto.
“Esse gênero de peixe é pouco coletado e ainda menos observado. Por isso a agregação que registramos chama tanta atenção, já que não havia qualquer indício anterior de que esse comportamento fizesse parte da história natural da espécie”, afirmou a bióloga Manoela Marinho, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, primeira autora do estudo, ao Live Science.
Escalada em massa e possível reprodução
O fenômeno foi observado em novembro de 2024, no início da estação chuvosa, após uma seca prolongada. Segundo os cientistas, os peixes aguardavam nas poças formadas pelas pedras e, ao entardecer, iniciavam a escalada em massa. Em alguns trechos planos, havia tantos peixes que chegavam a subir uns sobre os outros.
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A equipe registrou que os animais usavam nadadeiras firmes e movimentos laterais de corpo e cauda para se impulsionar, possivelmente criando também um efeito de sucção para se fixar às rochas.
“Todos os indícios apontam para um encontro reprodutivo. A elevação repentina do nível da água parece ter desencadeado a desova da espécie, reunindo uma concentração massiva de peixes nunca antes vista”, explica Manoela Marinho.
Os pesquisadores ainda não sabem com certeza por que a migração acontece dessa forma, mas destacam que o grupo incluía machos e fêmeas adultos, o que reforça a hipótese da reprodução.
Importância para a conservação dos rios
O estudo mostra como migrações de peixes pequenos ainda são pouco conhecidas no Brasil, já que a maioria das pesquisas foca em espécies maiores de interesse comercial. Esse desconhecimento, segundo os especialistas, pode fazer com que fenômenos como o registrado passem despercebidos.
Para Marinho, a descoberta é também um alerta para a preservação dos habitats naturais. “Registrar e compartilhar esse tipo de comportamento ressalta a necessidade de preservar córregos de fluxo rápido. Esses ambientes costumam ser submersos por reservatórios hidrelétricos, levando ao desaparecimento de espécies adaptadas a eles”, conclui a pesquisadora.
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