Estudo: bactérias da mãe podem ajudar a moldar o cérebro do bebê

Nossos corpos são colonizados por uma multidão de microrganismos que participam de inúmeros processos biológicos. Um novo estudo sugere que essa relação começa ainda antes do nascimento e as bactérias da mãe podem influenciar até a formação do cérebro do bebê.

A pesquisa, conduzida por cientistas da Universidade Estadual da Geórgia, nos Estados Unidos, e publicada na revista Hormones and Behavior em abril, analisou camundongos criados em ambiente livre de germes, de modo que não houvesse qualquer colonização microbiana inicial.

Parte dos animais foi colocada com mães de microbiota normal, o que permitiu aos pesquisadores acompanhar a rápida transferência de microrganismos e observar os efeitos no cérebro em desenvolvimento.

“Ao nascer, o corpo do recém-nascido é colonizado por microrganismos enquanto viaja pelo canal do parto. Queríamos explorar mais a fundo como a chegada dessas bactérias pode afetar o desenvolvimento cerebral”, explica a neurocientista comportamental Alexandra Castillo Ruiz, que liderou o estudo, em comunicado.

Alterações no cérebro desde os primeiros dias

O foco dos cientistas foi o núcleo paraventricular (PVN), uma região do hipotálamo ligada ao estresse e ao comportamento social. Entre os camundongos livres de germes, havia menos neurônios no PVN, mesmo quando os microrganismos eram introduzidos logo após o nascimento — o que sugere, segundo os autores, que as alterações provocadas por eles podem acontecer ainda no útero.

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Os efeitos também se mostraram persistentes. Os pesquisadores verificaram que os animais continuavam apresentando menos neurônios nessa área do cérebro mesmo na fase adulta. “Nosso estudo mostra que os microrganismos desempenham um papel importante na formação de uma região do cérebro que é fundamental para as funções corporais e o comportamento social”, afirma Castillo-Ruiz.

Repercussões para a saúde humana

Embora os resultados tenham sido observados em camundongos, os cientistas lembram que há semelhanças biológicas importantes com os humanos, o que abre a possibilidade de que práticas médicas que alteram a microbiota, como o uso de antibióticos perto do parto ou o aumento das cesáreas, influenciem o desenvolvimento cerebral dos bebês.

“Em vez de rejeitar nossas bactérias, deveríamos reconhecê-las como parceiras no desenvolvimento inicial da vida. Elas estão ajudando a construir nossos cérebros desde o início”, diz Castillo-Ruiz.

Ainda é cedo para tirar conclusões definitivas, mas os pesquisadores defendem que a relação entre a microbiota materna e a formação do cérebro merece ser investigada em profundidade.

Estudos futuros devem avaliar como fatores como alimentação, sono e estilo de vida das gestantes podem modificar esses microrganismos e, por consequência, influenciar a saúde dos filhos.

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