Filhotes de ratos espaciais respondem se a fertilidade é afetada fora da Terra

Com o avanço dos programas espaciais e o desgaste crescente do nosso planeta, a ideia de viver fora da Terra tem deixado de ser apenas ficção científica. No entanto, voar pelo espaço não é simples: mudanças na gravidade, alterações no ciclo do sono e a exposição à radiação podem provocar sérios efeitos no corpo humano, como perda de massa muscular, redução da densidade óssea e até riscos para a reprodução.

Entender como as viagens espaciais afetam as células germinativas (responsáveis por gerar óvulos e espermatozoides) é essencial. Qualquer dano nessas células pode ser transmitido às futuras gerações, colocando em risco a saúde de descendentes. 

Em resumo:

O avanço da exploração espacial exige entender os riscos biológicos das viagens aos humanos;

Gravidade, radiação e sono alterado afetam ossos, músculos e fertilidade;

Danos em células germinativas podem comprometer a saúde das futuras gerações;

Cientistas japoneses estudaram espermatozoides de camundongos expostos ao espaço;

Filhotes nasceram saudáveis, sem alterações genéticas após reprodução natural;

Congelamento prejudicou mais que o ambiente espacial; 

Testes a longo prazo se fazem necessários.

Células-tronco embrionárias de camundongos foram enviadas para a ISS para experimento sobre a influência do ambiente espacial na fertilidade. Crédito: NASA/SpaceX

Experimento com ratos avalia relação entre espaço e fertilidade

Diversas pesquisas comprovam anormalidades em células-tronco embrionárias expostas ao espaço, mas as causas ainda não eram totalmente compreendidas.

Foi pensando nisso que cientistas da Universidade de Kyoto, no Japão, decidiram investigar os impactos nos espermatozoides em formação. Para o estudo, eles utilizaram células-tronco de camundongos, que possuem um ciclo reprodutivo bem mais curto que o dos humanos. A ideia era avaliar se a exposição ao ambiente espacial poderia comprometer a fertilidade.

As células foram congeladas e enviadas à Estação Espacial Internacional (ISS), onde ficaram guardadas em um freezer por seis meses. De volta ao Japão, as amostras foram descongeladas, cultivadas em laboratório e depois transplantadas em testículos de camundongos. Três a quatro meses depois, nasceram filhotes saudáveis, obtidos por reprodução natural.

Gestações saudáveis deram origem a filhotes de ratos produzidos de células embrionárias que ficaram na ISS por seis meses. O que isso pode significar para o futuro da exploração espacial? Crédito: Nickrass junior – Shutterstock

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Células foram mais afetadas pelo congelamento que pelo ambiente espacial

A análise mostrou que os camundongos apresentavam desenvolvimento normal e não exibiam alterações genéticas. Isso sugere que, pelo menos durante seis meses, é possível preservar a fertilidade das células germinativas mesmo após o período no espaço. Os resultados foram publicados na revista Stem Cell Reports.

“É importante saber por quanto tempo podemos armazenar essas células na ISS para entender os limites do armazenamento em futuras missões humanas”, destacou o pesquisador Mito Kanatsu-Shinohara, primeiro autor do estudo, em um comunicado.

Diagrama ilustra o processo do experimento. Crédito: KyotoU / laboratório Shinohara

A pesquisa revelou ainda um detalhe curioso: as células foram mais afetadas pelo processo de congelamento do que pela viagem espacial em si. Apesar da sensibilidade à radiação, os danos foram mínimos. Mesmo assim, os cientistas alertam que ainda são necessárias avaliações de longo prazo, já que problemas podem surgir apenas nas próximas gerações.

Quando o assunto é reprodução humana no espaço, a ciência ainda engatinha. A maioria dos estudos foi feita em animais, e, no caso de humanos, as pesquisas se concentram mais nos efeitos sobre homens, já que poucas mulheres viajaram para fora da Terra. 

Sabe-se que a menstruação não sofre grandes mudanças em órbita, mas os impactos da microgravidade e da radiação no amadurecimento dos óvulos e na ovulação permanecem incertos. Como ressalta a ginecologista espacial Varsha Jain em entrevista à Science Focus, até na Terra os estudos sobre saúde reprodutiva são limitados, tornando a concepção no espaço ainda mais teórica.

Os pesquisadores planejam continuar as análises com outras amostras que ainda estão armazenadas na ISS. O objetivo é avançar no conhecimento sobre como preservar a reprodução em futuras missões espaciais de longa duração.

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