Líderes de nações africanas terão um grande desafio na Segunda Cúpula do Clima da África, que acontece entre 8 e 10 de setembro, na Etiópia. Eles tentarão convencer autoridades mundiais de que o continente pode desencadear uma onda de investimentos de alto retorno. Mas isso requer uma mudança drástica de mindset.
“Explorar o vasto potencial de investimento verde da África exigirá que os investidores abandonem a percepção ultrapassada de que a África é um destino de alto risco – um lugar para fazer caridade, não para colher retornos. Os africanos não estão pedindo para serem resgatados”, diz Fitsum Assefa Adela, Ministra do Planejamento e Desenvolvimento da Etiópia e coordenadora-geral da cúpula.
O evento acontece na capital Adis Abeba, sede da União Africana, e vai reunir 45 chefes de Estado, climatologistas, líderes do setor privado, representantes da sociedade civil e da juventude, e parceiros globais de desenvolvimento. Até lá, a ONU realiza a Semana do Clima, que começou no dia 1º e segue até 6 de setembro. É também um “esquenta” para a COP30, com início em 10 de novembro, em Belém, no Pará.
Há expectativa de que a cúpula seja encerrada com a revisão da Declaração de Adis Abeba, que cria uma nova estrutura global para financiamento de metas climáticas no continente africano, estimados em US$ 3 trilhões. Na última COP29 em Baku, no Azerbaijão, o acordo prevê US$ 300 bilhões anuais.
Chances desperdiçadas
As mudanças climáticas estão reduzindo o crescimento do PIB africano em 5% a 15% ao ano, de acordo com o Banco Africano de Desenvolvimento. Secas e inundações estão interrompendo a agricultura e deslocando milhões de pessoas em todo o continente, com impactos na geração de empregos e nos investimentos em infraestrutura crítica.
Essa vulnerabilidade climática, no entanto, também cria um “modelo de possibilidade climática”, com potencial verde em grande parte inexplorado, na avaliação da ministra Adela. Mesmo possuindo 60% dos melhores recursos solares do mundo, o continente tem apenas 1% da capacidade solar instalada global e 3% do investimento global em energia.
“Isto representa uma grande oportunidade perdida, principalmente para os investidores. Enquanto os países industrializados tentam modernizar suas economias com base no consumo voraz de combustíveis fósseis, a África pode construir economias resilientes e sustentáveis a partir do zero. Isso reduz o perfil de risco do investimento verde no continente e aumenta os retornos a longo prazo”, diz a ministra.
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Exemplo na prática
O governo da Etiópia destaca projetos financiáveis que já estão em andamento, prontos para serem ampliados:
Grande Barragem do Renascimento Etíope (GERD): rede nacional alimentada quase inteiramente por fontes de energia renováveis, especialmente hidrelétricas. Já atingiu 2.350 megawatts em capacidade de geração de energia e gerará 5.150 MW quando todas as 13 turbinas estiverem operacionais.
“A geração renovável da Etiópia é tão eficaz que suas exportações de energia agora abastecem residências e empresas em Djibuti, Quênia, Sudão e Tanzânia, aumentando suas receitas e aprofundando os laços regionais”, acrescenta a ministra.
Usina Solar de Jambur, na Gâmbia: projeto apoiado por um pacote de financiamento misto de US$ 165 milhões, que fornece energia limpa a milhares de residências;
Complexo Eólico Impofu, na África do Sul: impulsiona a descarbonização industrial por meio de acordos inovadores de “roda dentada” que atraem capital global;
Quênia: produção de amônia verde com energia solar está reduzindo as emissões agrícolas, reduzindo os custos para os agricultores e reforçando a segurança alimentar.
“Se a África for capacitada para promover a industrialização verde, poderá contribuir significativamente para a estabilidade climática global, a segurança alimentar e o crescimento econômico sustentável. Se a África for deixada para trás, as mudanças climáticas continuarão a acelerar, as interrupções na cadeia de suprimentos proliferarão e a instabilidade global se intensificará”, defende Adela.
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