Cientistas descobrem sinal que distingue Parkinson do tremor essencial

Pesquisadores da Escola de Neurociência da Virginia Tech, dos Estados Unidos, descobriram um padrão químico no cérebro que diferencia o Parkinson do tremor essencial (TE), dois dos distúrbios de movimento mais comuns.

O estudo, publicado nesta terça-feira (2/9) na revista Nature Communications, mostra que diferenças na interação entre dopamina e serotonina permitem separar os dois transtornos, abrindo novas possibilidades para diagnóstico e tratamento.

O foco da pesquisa foi uma região do cérebro chamada caudado do estriado, envolvida na tomada de decisões e no processamento de recompensas. Durante cirurgias de estimulação cerebral profunda, os cientistas mediram flutuações de dopamina e serotonina em pacientes enquanto eles participavam de jogos que testavam suas respostas a situações justas e injustas.

O que é o Parkinson?

O Parkinson é uma condição crônica e progressiva causada pela neurodegeneração das células do cérebro.
Estima-se que cerca de 10 milhões de pessoas no mundo tenham Parkinson.
A ocorrência é mais comum entre idosos com mais de 65 anos, mas também pode se manifestar em outras idades.
A doença atinge principalmente as funções motoras, causando sintomas como: lentidão dos movimentos, rigidez muscular e tremores.
Os pacientes também podem ter: diminuição do olfato, alterações do sono, mudanças de humor, incontinência ou urgência urinária, dor no corpo e fadiga.
Cerca de 30% das pessoas que vivem com Parkinson desenvolvem demência por associação.

Sinal químico que revela diferenças

Em pessoas com tremor essencial, ofertas inesperadas no jogo provocavam um efeito de gangorra: enquanto a dopamina subia, a serotonina caía. Esse vai e vem entre os neurotransmissores não acontecia em pacientes com Parkinson.

“O que nos surpreendeu foi a quantidade de serotonina que se destacou”, disse William Howe, professor assistente da Escola de Neurociência da Virginia Tech e coautor do estudo, em comunicado.

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Embora a dopamina já seja conhecida por ser alterada em pacientes com Parkinson, a pesquisa mostrou que a diferença mais evidente entre os dois distúrbios está na forma como dopamina e serotonina interagem. A falta desse vai e vem entre os neurotransmissores se mostrou um sinal confiável para diferenciar os pacientes.

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Parkinson é uma doença neurológica caracterizada pela degeneração progressiva dos neurônios responsáveis pela produção de dopamina

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Esse processo degenerativo das células nervosas pode afetar diferentes partes do cérebro e, como consequência, gerar sintomas como tremores involuntários, perda da coordenação motora e rigidez muscular

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Outros sintomas da doença são lentidão, contração muscular, movimentos involuntários e instabilidade da postura

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Em casos avançados, a doença também impede a produção de acetilcolina, neurotransmissor que regula a memória, aprendizado e o sono

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Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), apesar de a doença ser conhecida por acometer pessoas idosas, cerca de 10% a 15% dos pacientes diagnosticados têm menos de 50 anos

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Não se sabe ao certo o que causa o Parkinson, mas, quando ocorre em jovens, é comum que tenha relação genética. Neste caso, os sintomas progridem mais lentamente, e há uma maior preservação cognitiva e de expectativa de vida

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O Parkinson não tem cura, mas o tratamento pode diminuir a progressão dos sintomas e ajudar na qualidade de vida. Além de remédio, é necessário o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar. Em alguns casos, há possibilidade de cirurgia no cérebro

Andriy Onufriyenko/ Getty Images

Como a tecnologia ajudou a revelar diferenças no cérebro

Os pesquisadores aplicaram modelos computacionais baseados em aprendizado por reforço para rastrear como os pacientes formavam e ajustavam expectativas durante o jogo.

O estudo levou décadas de trabalho, combinando teoria comportamental, experimentos com camundongos e análises estatísticas avançadas para transformar sinais químicos em informações clínicas úteis.

“Desde a adaptação da teoria dos jogos comportamentais a algo que funcione como um teste médico até o refinamento de modelos de aprendizado de máquina que possam observar a química cerebral em tempo real — sempre buscamos traduzir informações em algo clinicamente útil”, afirma o neurocientista Read Montague, do Instituto de Pesquisa Biomédica Fralin.

A pesquisa também destacou que certos erros de previsão, quando os participantes esperavam um resultado e recebiam outro, provocavam alterações na serotonina, funcionando como indicadores precisos do distúrbio de cada paciente.

Para os autores do estudo, a descoberta oferece uma nova compreensão do impacto da doença nos processos cognitivos humanos, como a avaliação social, e pode ajudar a desenvolver estratégias mais personalizadas para diagnóstico e tratamento.

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