Você já deve ter ouvido falar da importância das abelhas para a polinização de plantas. Elas, ao recolherem o néctar para se alimentar, transportam o pólen grudado em seu corpo para outras plantas, garantindo sua fecundação. Mas elas não são as únicas polinizadoras, borboletas, moscas, mariposas e diversos outros insetos, e até répteis e mamíferos, também têm um papel marcante nesse trabalho.
Entretanto, com as mudanças climáticas essa simbiose pode estar em perigo. Segundo artigo no The Conversation, essas mudanças “podem causar uma incompatibilidade entre as plantas e seus polinizadores, afetando onde vivem e a época do ano em que estão ativos”.
Essas mudanças já aconteceram no passado
Vera Korasidis, paleontóloga e professora de Geociências Ambientais, Universidade de Melbourne, na Austrália, explica que “quando a Terra passou por um rápido aquecimento global, já 56 milhões de anos, as plantas de áreas tropicais secas se expandiram para novas áreas – assim como seus polinizadores”.
Essa grande mudança ocorreu em um período notavelmente curto, de apenas milhares de anos.
Vera Korasidis, paleontóloga e professora de Geociências Ambientais, Universidade de Melbourne, em artigo no The Conversation.
Nos últimos 150 anos, o planeta passou por uma grande concentração de dióxido de carbono (40%), e esse aumento contribuiu para que a média de temperatura global subisse em mais de 1,3°C. Essa concentração e temperatura nunca foi encontrada na nossa história e, segundo Korasidis, “excedem qualquer coisa conhecida nos últimos 2,5 milhões de anos”.
Por isso, o estudo feito pela paleontóloga, buscou informações na história do planeta e identificou que, há 56 milhões de anos, houve um “grande e repentino evento de aquecimento causado pela liberação de uma quantidade gigantesca de carbono da atmosfera e no oceano.
Evento durou cerca de 5 mil anos
O evento conhecido como Máximo Térmico do Paleoceno-Eoceno durou cerca de 5 mil anos e jogou uma quantidade gigantesca de carbono na atmosfera, “provavelmente devido a uma combinação de atividade vulcânica e liberação de metano de sedimentos oceânicos”. Com isso, a temperatura global subiu cerca de 6°C e se manteve assim por mais de 100 mil anos.
Lições do passado (há 56 milhões de anos)
Grande liberação de carbono na atmosfera e oceanos
Aquecimento global de cerca de 6°C
Evento durou 5 mil anos e efeitos por mais de 100 mil anos
Plantas tropicais se expandiram para novas áreas
Polinização por animais aumentou, polinização pelo vento diminuiu
E, claro, isso impactou na vida no planeta, mas será que também mudou a forma com que os polinizadores trabalham? Por isso “estudamos pólen fóssil para entendermos as mudanças na polinização”, comenta Korasidis, explicando que o pólen é um elemento abundante, “amplamente disperso no ar e na água e resistente à decomposição”.
Mudanças na forma de polinização
Ao observar pólen fóssil na Bacia de Bighorn, Wyoming, EUA, Korasidis e equipe identificaram mudanças na forma de polinização. “Nossas descobertas mostram que a polinização por animais se tornou mais comum durante esse intervalo […] enquanto isso, a polinização pelo vento diminuiu”.
Segundo ela, isso ocorreu devido a extinção de populações de plantas polinizadas pelo vento que cresciam na Bacia de Bighorn, com essas plantas sendo substituídas por outras vindas de regiões com climas mais quentes e secos, que “se espalharam em direção aos polos”, alcançando a Bacia.
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Uma visão para o futuro
Com a alta da temperatura global, insetos polinizadores e outros animais migraram junto com as plantas, ajudando “novas comunidades de plantas a se estabelecerem no clima quente e seco”.
Segundo o estudo de Korasidis, o aquecimento global “alterou drasticamente os ecossistemas terrestres e marinhos”. A paleontóloga afirma que “apesar dessas mudanças serem drásticas”, as espécies terrestres e o ecossistema antigo deve ter sobrevivido, com as florestas retornando à Bacia de Bighorn quando as temperaturas começaram a cair.
Isso demonstra que plantas e seus polinizadores conseguem “restabelecer comunidades muito semelhantes, mesmo após um longo período de alterações climáticas”.
A chave para o futuro pode ser manter as taxas de mudanças ambientais baixas o sufiete para evitar extinções.
Vera Korasidis, paleontóloga e professora de Geociências Ambientais, Universidade de Melbourne, em artigo no The Conversation.
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