Homo naledi: revisão de estudo reacende debate sobre sepultamentos

Uma das maiores controvérsias da evolução humana ganhou um novo capítulo. Pesquisadores liderados por Lee Berger submeteram uma versão revisada de um estudo sobre o Homo naledi, espécie pré-histórica descoberta no sistema de cavernas Rising Star, na África do Sul. O trabalho sugere que esses hominídeos, apesar de terem cérebros pequenos, podem ter enterrado seus mortos — um comportamento até então associado a espécies mais avançadas.

O tema chamou atenção mundial há alguns anos após um documentário da Netflix explorar a hipótese de rituais funerários dessa espécie. À época, porém, especialistas independentes rejeitaram amplamente a ideia, alegando falta de evidências sólidas. Agora, após ajustes no estudo e novas análises, um dos revisores responsáveis pela avaliação científica mudou de posição e passou a considerar o argumento mais consistente.

O Museu de História Natural de Londres guarda uma mandíbula e a mão direita de um Homo naledi encontrados na África do Sul. (Imagem: equipe de pesquisa de Lee Roger Berger / Wikimedia Commons)

Revisão científica e mudança de opinião

Quando o estudo foi inicialmente revisado, os quatro avaliadores consideraram as provas inadequadas e pouco convincentes.

Havia dúvidas sobre se os ossos encontrados foram realmente colocados intencionalmente nas cavernas ou se chegaram lá por processos naturais, como a ação da água.

Na nova versão, dois dos revisores voltaram a analisar o material.

Um deles continua cético, apontando incertezas sobre como o Homo naledi teria alcançado uma caverna de acesso tão difícil.

O outro, no entanto, afirmou ter mudado de opinião após as alterações feitas pela equipe de Berger.

Evidências apresentadas

Segundo o revisor que passou a apoiar a hipótese, os autores implementaram melhorias metodológicas e trouxeram análises mais detalhadas sobre os processos de deposição dos ossos. Foram incluídas reconstruções tafonômicas, articulações e padrões de deslocamento, além de dados que indicam que os restos estavam em covas escavadas intencionalmente.

Além disso, a versão revisada apresenta uma linha do tempo estruturada sobre as etapas de morte e deposição, reforçando a distinção entre processos naturais e ações humanas. Para o avaliador, essas mudanças tornaram o argumento sobre sepultamentos intencionais mais robusto e persuasivo.

Reconstrução 3D do Homo naledi. Créditos: John Gurche / Mark Thiessen / National Geographic

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Debate continua aberto

Apesar dos avanços, a hipótese ainda encontra resistência. O Homo naledi tinha um cérebro do tamanho semelhante ao de um chimpanzé, o que levanta questionamentos sobre a capacidade da espécie de realizar comportamentos simbólicos complexos.

Mesmo assim, os novos dados adicionam credibilidade à tese de que os esqueletos foram enterrados. O impacto dessa conclusão para a compreensão da evolução humana e da origem das práticas funerárias deve continuar a gerar intensos debates acadêmicos.

O estudo revisado foi publicado na revista científica eLife.

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