Entenda os riscos da psilocibina, substância dos “cogumelos mágicos”

A Polícia Civil do Distrito Federal prendeu nesta quinta-feira (4/9) nove pessoas suspeitas de integrar uma organização criminosa que produzia e distribuía “cogumelos mágicos” para todo o país.

Segundo os investigadores, foram interceptados mais de 3 mil pacotes da droga, vendidos pelas redes sociais e entregues pelos Correios. Mas afinal, o que são os cogumelos, por que chamam a atenção da ciência e quais os riscos do consumo?

Os “cogumelos mágicos” contêm psilocibina, uma substância psicodélica que altera a percepção da realidade, a noção de tempo e espaço, e pode provocar experiências emocionais intensas.

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Apesar da fama como droga recreativa, a psilocibina vem sendo estudada em diversos países por seu possível potencial terapêutico, principalmente em casos de depressão resistente, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

Segundo o psiquiatra Raphael Boechat, professor da Universidade de Brasília (UnB), a substância pode vir a ter aplicações médicas no futuro, mas ainda está longe da prática clínica.

“A psilocibina foi tentada como tratamento desde muito tempo. Hoje, existem pesquisas promissoras, mas ainda não há aprovação científica para uso clínico”, explica.

O químico industrial e membro do Conselho Federal de Química (CFQ) Ubiracir Fernandes Lima destaca que os efeitos dependem da quantidade ingerida. “O consumo pode provocar alterações nas percepções visuais e auditivas. Apesar de geralmente não estar associado à dependência, em alguns indivíduos pode gerar efeitos psicológicos duradouros, principalmente em pessoas predispostas”, afirma.

Ainda não é regulamentada

Apesar do interesse científico, o uso da psilocibina continua sendo proibido no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Não existe protocolo médico oficial que recomende seu consumo e, fora de ambientes de pesquisa controlados, a substância oferece riscos sérios à saúde.

“É necessário muito rigor científico. O uso inadequado pode levar a estados psicóticos. Quem tem predisposição à esquizofrenia ou ao transtorno bipolar, por exemplo, pode ter a doença desencadeada”, alerta o psiquiatra Marcos Gebara, do Rio de Janeiro.

Lima explica que a psilocibina está incluída na lista F da Portaria 344/88 do Ministério da Saúde, que reúne substâncias de uso proscrito no Brasil. “Mesmo em estudos científicos, só pode ser manipulada com autorização oficial. Já nos Estados Unidos, o FDA reconhece desde 2018 a psilocibina como terapia inovadora, o que abriu caminho para pesquisas clínicas, sempre em ambientes controlados”, ressalta.

Efeitos e riscos do consumo

O efeito imediato da psilocibina é alterar o funcionamento do sistema serotoninérgico, responsável pela regulação do humor. Isso pode gerar alucinações, euforia, sensação de prazer e experiências interpretadas como místicas ou espirituais.

Mas, segundo os especialistas, os riscos são significativos.

A curto prazo: ataques de pânico, crises de ansiedade, paranoia e perda de contato com a realidade.
A longo prazo: antecipação ou agravamento de doenças psiquiátricas, como depressão, transtorno bipolar e principalmente esquizofrenia em pessoas predispostas.

“A esquizofrenia é uma das doenças mais graves da psiquiatria. Muitas vezes, a pessoa poderia desenvolver a doença mais tarde, mas o uso da droga antecipa o quadro, o que piora o prognóstico”, destaca Boechat.

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