Cientistas descobriram uma extraordinária adaptação na reprodução de uma espécie de formiga que vive na Europa, principalmente na península ibérica. As rainhas da formiga Messor ibericus conseguem gerar machos de uma espécie diferente mesmo sem usar o sêmen das formigas. O que acontece é quase como “clonagem entre espécies”, algo que jamais havia sido documentado em organismos naturais.
De acordo com o estudo publicado na revista Nature na última quarta-feira (3/9), de modo geral, espera-se que organismos reproduzam descendentes da mesma espécie.
Mas em Messor ibericus essa regra é quebrada: a rainha, apesar de pertencer a uma espécie, precisa usar os espermatozoides de machos de outra espécie, a Messor structor, para produzir a prole trabalhadora. Os filhos machos resultam em dois tipos bem distintos — geneticamente e morfologicamente — mesmo tendo a mesma mãe.
Porém, em situações onde não há machos structor disponíveis para cópula, ela desenvolve sozinha óvulos de operárias — como se clonasse a espécie. Depois, a rainha cruza com os machos para dar origem a um tipo de formiga geneticamente nova que vai cuidar da colônia.
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Esse sistema incomum pode ser entendido como uma forma de “parasitismo sexual” evoluído, em que a rainha explora a reprodução entre espécies para garantir a produção dos trabalhadores.
(a) Rainha M. ibericus . (b) Operárias M. ibericus ( híbridos ibericus x structor ). (c) Macho M. ibericus . (d) Macho M. structor (clonal). (e) Macho M. structor (tipo selvagem)
A descoberta foi possível graças a um estudo detalhado: os pesquisadores combinaram trabalho de campo, análises genéticas de centenas de formigas e experimentos controlados que demonstraram que, sem esse cruzamento interespécies, não seria possível formar a sociedade da colônia — sem trabalhadores, nenhuma colônia sobrevive.
Essa relação mostra que a reprodução na natureza pode ser muito mais complexa e flexível do que se imagina. Ao descobrir que uma formiga mãe pode gerar “filhos” de espécies diferentes com papéis distintos dentro do formigueiro, os cientistas ampliaram nossas compreensão sobre os limites da biologia reprodutiva e evolutiva.
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