A juba-de-leão (Cyanea capillata) é a maior água-viva do mundo. Seus tentáculos podem ultrapassar 30 metros, comprimento maior do que o da baleia-azul, o maior animal do planeta. Apesar do seu tamanho impressionante, a estrutura corporal da água-viva é simples, característica de invertebrados marinhos do filo Cnidaria.
Cientistas apontam que mudanças ambientais, como o aquecimento dos oceanos, podem favorecer a proliferação desses organismos. A presença da juba-de-leão também funciona como um indicador da saúde marinha, já que espécies sensíveis refletem desequilíbrios ecológicos, como a sobrepesca e alterações na disponibilidade de alimento.
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O contato humano com esses animais é raro, pois habitam regiões profundas do Atlântico Norte e do Ártico. Ainda assim, caso uma pessoa toque seus tentáculos, pode sofrer queimaduras e reações alérgicas. A toxina não é letal na maioria dos casos, mas o tamanho e a quantidade de tentáculos tornam o risco significativo.
Estrutura corporal e alimentação da água-viva
Hudson Monteiro, biólogo e professor de biologia no colégio Marista Champagnat de Taguatinga, explica que mesmo com o tamanho de seus tentáculos, a estrutura da água-viva é simples por ser um animal invertebrado.
“O seu tamanho imenso é mais pelo alongamento de seus tentáculos, mas a estrutura principal de seu corpo tem por volta de dois metros de diâmetro”, explica Monteiro.
O especialista detalha ainda como a espécie captura suas presas: usando tentáculos com células urticantes chamadas cnidócitos. Eles funcionam como redes de pesca, paralisando peixes, crustáceos e até outras águas-vivas menores antes de direcioná-los à cavidade gastrovascular para digestão.
“Os tentáculos funcionam como uma rede de pesca, e o bicho que der o azar de ficar preso eventualmente irá se tornar alimento”, destaca Monteiro.
A água-viva possui mecanismos eficientes para sobrevivência e alimentação, uma vez que seus tentáculos longos aumentam significativamente a área de captura de presas, o que permite que o animal se alimente mesmo à deriva em correntes oceânicas. Além disso, a presença de cnidócitos permite que a água-viva imobilize suas presas de forma rápida.
O comportamento da juba-de-leão também é considerado simples devido ao sistema nervoso difuso. Diferente de animais com cérebros centralizados, como mamíferos marinhos, a água-viva não processa informações complexas nem realiza movimentos coordenados avançados.
O animal reage apenas a estímulos do ambiente, como toque ou presença de presas, de maneira parecida ao sentido do tato, sem padrões comportamentais elaborados ou controle voluntário dos movimentos.
O nome da água-viva vem da cor dos chamados “braços orais” — estrutura localizada perto da boca — que têm tom violeta combinado a tentáculos avermelhados ou amarelos
Habitat e predadores da água-viva
As águas profundas e frias do Atlântico Norte e do Ártico oferecem condições ideais para a espécie. O biólogo explica que essas regiões têm mais oxigênio dissolvido, menos competição e predadores, o que permite metabolismo lento e crescimento considerável.
Mesmo com o seu tamanho, a água-viva não deixa de enfrentar predadores naturais. Emanuele Abreu, professora de biologia do Colégio Católica Brasília, explica que algumas espécies de tartarugas marinhas, peixes grandes, aves e até outras águas-vivas podem se alimentar dela.
“Apesar do tamanho impressionante, ela não é intocável. Mas, por ser gigante, enfrenta menos predadores do que espécies menores”, explica Emanuele.
Saúde dos oceanos e potencial científico da água-viva
A presença crescente da juba-de-leão em diferentes regiões do oceano indica alterações ambientais importantes, funcionando como um termômetro natural da saúde marinha.
Emanuele detalha que o aquecimento das águas acelera o ciclo de vida da espécie e expande seu habitat, enquanto mudanças na disponibilidade de plâncton favorecem sua proliferação.
“O aquecimento global cria um ambiente mais favorável para muitas espécies de águas-vivas, incluindo a Cyanea capillata. As águas mais quentes proporcionam um ciclo de vida mais acelerado para esses organismos, além de expandir suas áreas de habitat para regiões onde antes a água era muito fria”, esclarece Emanuele.
Além de seu papel ecológico, a espécie desperta interesse em biotecnologia e medicina. Sua toxina, colágeno e capacidade regenerativa são estudados para o desenvolvimento de medicamentos e cosméticos com potencial terapêutico e industrial.
“Muitas vezes, populações grandes de águas-vivas surgem quando há sobrepesca ou diminuição de predadores, além da poluição e do aquecimento das águas. Por isso, a Cyanea capillata pode ser vista como um tipo de ‘termômetro’ das condições ambientais marinhas”, relata Emanuele.
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