Pesquisadores dos Estados Unidos desvendaram um dos mistérios mais curiosos das quimeras, também conhecidas como tubarões-fantasma. Esses peixes de águas profundas, parentes de tubarões e raias, possuem um apêndice na testa cheio de dentes retráteis.
O estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences em 28 de julho, mostrou que os dentes não são apenas ornamentais, mas estruturas desenvolvidas fora da boca, provavelmente com função reprodutiva.
O chamado tenáculo aparece apenas nos machos e parece servir para agarrar as fêmeas durante o acasalamento, de modo semelhante ao que os tubarões fazem com suas bocas dentadas.
“Se as quimeras conseguem produzir dentes fora da boca, onde mais poderíamos encontrá-los?”, questionou Gareth Fraser, professor de biologia da Universidade da Flórida e autor sênior do estudo, em comunicado.
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Para investigar a origem do apêndice, a equipe analisou fósseis com 315 milhões de anos e também espécimes vivos coletados na região de Puget Sound, nos Estados Unidos. O material revelou que o tenáculo era originalmente ligado à mandíbula superior, exibindo dentes muito semelhantes aos da boca.
Exames genéticos confirmaram que o crescimento dentário na testa segue o mesmo processo observado em dentes orais de tubarões, reforçando a ideia de que a capacidade de formação dentária foi transferida para essa estrutura.
“O que descobrimos é que os dentes neste apêndice estranho se parecem muito com fileiras de dentes de tubarão. A capacidade de produzir dentes foi transferida da boca para o tenáculo”, explicou Fraser.
Evolução com criatividade
Os cientistas destacam que se trata de um exemplo claro de como a evolução pode reutilizar mecanismos biológicos em funções inesperadas.
“Temos uma combinação de dados experimentais com evidências paleontológicas para mostrar como esses peixes se apropriaram de um programa preexistente de fabricação de dentes para criar um novo dispositivo essencial para a reprodução”, afirmou Michael Coates, professor de biologia da Universidade de Chicago, que também participou do estudo.
Segundo os pesquisadores, nunca havia sido descrita de forma tão clara a presença de dentes fora da boca em vertebrados. Para Karly Cohen, pesquisadora da Universidade de Washington e primeira autora do artigo, o tenáculo “não é um caso isolado e bizarro, mas o primeiro exemplo claro de uma estrutura dentada fora da mandíbula”.
O achado reforça a diversidade de adaptações evolutivas encontradas em ambientes profundos e ainda pouco explorados. “Ainda há muitas surpresas nas profundezas do oceano que precisamos descobrir”, disse Fraser.
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