Estudo recupera gene ancestral para ajudar a tratar a gota

Milhões de aons atrás, os ancestrais dos humanos perderam a função de um gene que ajudava a controlar os níveis de ácido úrico no sangue. Agora, cientistas acreditam que restaurar esse gene pode oferecer uma nova alternativa no tratamento da gota, forma de artrite que provoca crises dolorosas nas articulações.

A doença afeta uma em cada 25 pessoas no mundo e está ligada ao acúmulo de cristais de ácido úrico, que causam inflamação intensa. Apesar da existência de medicamentos, muitos apresentam limitações ou efeitos colaterais importantes, o que faz a busca por novas terapias seguir em ritmo acelerado.

Como a ciência recuperou um gene perdido

O estudo, publicado na revista Scientific Reports em 18 de julho, utilizou a técnica de edição genética CRISPR para inserir no DNA de células humanas cultivadas em laboratório um gene que produzia uricase, enzima capaz de quebrar o ácido úrico.

Outros mamíferos ainda possuem essa enzima ativa, mas em humanos ela deixou de funcionar devido a mutações acumuladas ao longo da evolução.

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Segundo Eric Gaucher, professor de biologia da Universidade Estadual da Geórgia e autor do estudo, as células humanas ainda reconhecem a proteína produzida pelo gene, o que pode facilitar futuras aplicações médicas.

“Nosso objetivo é mostrar como proteínas antigas podem ajudar a desenvolver terapias para problemas atuais”, afirmou ele, em comunicado.

Do laboratório para possíveis tratamentos

Nos testes, a restauração do gene em esferoides de fígado humano levou à queda dos níveis de ácido úrico e à redução do acúmulo de gordura associado ao consumo de açúcar das frutas.

O próximo passo será avaliar a estratégia em camundongos, com o uso de nanopartículas capazes de entregar os componentes de edição genética diretamente nas células hepáticas.

Hoje, já existem terapias que utilizam uricase produzida a partir de genes de animais, mas elas frequentemente causam fortes respostas imunológicas. A vantagem da nova abordagem seria justamente o uso de uma versão ancestral do próprio gene humano, o que pode diminuir o risco de rejeição.

Embora ainda em fase inicial, a pesquisa sugere que resgatar genes do passado pode contribuir para novos tratamentos. Para Gaucher, a integração entre evolução molecular e medicina clínica pode se tornar uma estratégia promissora para enfrentar doenças comuns como a gota.

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