Um mistério marítimo finalmente foi resolvido por pesquisadores internacionais. Após uma vasta análise de registros de ondas no Mar do Norte, que fica entre as costas da Noruega e Dinamarca, os cientistas descobriram que as ondas gigantes no local se formam através de dois mecanismos: o foco linear e as não linearidades de segunda ordem.
Os resultados com o mecanismo de ação foram publicados em julho na revista científica Scientific Reports. O estudo foi liderado pela Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Geórgia, nos Estados Unidos.
Anteriormente, a teoria dominante para a formação de ondas gigantes na região era a instabilidade modulacional, e não a diferença de terreno, como acontece em Nazaré, em Portugal, por exemplo. A explicação mais aceita dizia que pequenas variações no tempo e espaçamento entre as ondas concentrariam energia em uma única, formando a onda gigante.
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Ao estudar os dados, os pesquisadores não acharam evidências robustas de que a instabilidade modulacional era a responsável por causar as ondas gigantes. Na verdade, elas eram formadas por dois mecanismos mais simples: o foco linear e as não linearidades de segunda ordem.
O primeiro acontece quando ondas que viajam em direções e velocidades distintas acabam se alinhando em um mesmo ponto e tempo, formando uma crista mais alta que o normal. Já as não linearidades de segunda ordem causam efeitos naturais que alteram o formato da onda, deixando o topo mais alto e o fundo mais achatado.
Quando combinados, os efeitos causam uma onda monstruosa, podendo aumentar a altura final em 15% a 20%. Apesar de alguns ainda acreditarem em lendas marítimas, o professor Francisco Fedele, da Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Geórgia, defende que as ondas existem, sim, na vida real. “Elas são extremas, mas explicáveis”, diz.
A equipe de pesquisa se debruçou na investigação de 27,5 mil registros de ondas coletadas por cerca de 18 anos no Mar do Norte – foi o conjunto de dados mais abrangente sobre o assunto. Cada registro documentou 30 minutos de atividades detalhadas das ondas, como altura, frequência e direção.
“Ondas gigantescas seguem as ordens naturais do oceano — sem exceções. Esta é a evidência mais definitiva e real até o momento”, defende um dos autores do artigo, em comunicado.
Importância para a segurança marítima
O estudo ressalta que muitos modelos de previsão ainda tratam o fenômeno como imprevisível. No entanto, ondas gigantes seguem um padrão natural reconhecível, que os pesquisadores classificam como uma “impressão digital” da onda.
Ondas gigantes podem causar acidentes no mar
Segundo Fedele, é essencial atualizar os padrões, aumentando o entendimento sobre os riscos marítimos.
“É fundamental para a segurança da navegação de navios, estruturas costeiras e plataformas de petróleo. Eles precisam ser projetados para suportar esses eventos extremos”, alerta o autor.
Atualmente, a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) – agência dos EUA responsável por monitorar oceanos – utiliza o modelo dos cientistas para prever onde e quando ondas gigantes podem ocorrer.
O foco de Fedele e sua equipe é treinar algoritmos para identificar combinações sutis entre altura, direção e tempo para prever quando ocorrerão ondas gigantes com mais precisão.
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