A cotação do ouro não para de subir e já atingiu mais um recorde, ultrapassando o patamar de US$ 3,6 a onça pela primeira vez esta semana e indo em direção dos US$ 3,7 mil.
Desde o começo do ano o preço do mineral precioso aumentou 40%, e cresceu 10% nas últimas três semanas, com a onça que alcançou US$ 3.680 em Londres.
Esse rally foi amplamente alimentado pela incerteza dos analistas sobre a economia mundial, bem como pelo esperado corte da taxa de juros nos Estados Unidos, considerado iminente após dados decepcionantes de emprego.
E todas as vezes que os juros caem, os preços dos ativos como ouro, imóveis e ações acabam subindo.
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A próxima reunião do Comitê Monetário do Fed está agendada para os dias 16 e 17 de setembro. O mercado está confiante que ocorrerá um corte.
Bancos centrais comprando ouro sem parar
Além disso, outra razão pela valorização do ouro é a compra cada vez mais maciça do mineral precioso por parte dos bancos centrais de vários países do mundo.
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As compras dos bancos centrais, que dobraram nos últimos três anos, ultrapassaram as mil toneladas anuais. Um fator significativo e decisivo para sustentar esta alta.
A China, em particular, aumentou suas reservas de ouro novamente em agosto, pelo décimo mês consecutivo, elevando o total para cerca de 2.302 toneladas. Desde novembro de 2024 o gigante asiático já comprou mais de 38 toneladas de ouro.
Ainda assim, o mineral representa apenas 6,8% das reservas da China. Ou seja, ainda existe um grande espaço para crescer.
Essa “corrida do ouro” é algo comum a vários bancos centrais de países emergentes, que também têm sido muito ativos em substituir o dólar com o mineral.
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Especialmente depois de 2022, ano em que a Rússia invadiu a Ucrânia e foi punida, entre outras coisas, com a expulsão do sistema de pagamentos Swift e com o “congelamento” de ativos no valor de aproximadamente 300 bilhões de dólares mantidos no exterior.
Medidas drásticas que levaram muitos países a reduzir prudentemente a exposição ao dólar.
Mas mesmo o banco central russo — que eliminou completamente os títulos do Tesouro dos Estados Unidos de sua carteira e agora detém impressionantes 2.329,6 toneladas de ouro em barras em seus cofres — conta com apenas 37,1% de suas reservas em ouro.
Outras economias emergentes alcançam participações muito mais modestas, da Índia (13,2%), Brasil (4%), Arábia Saudita (7%) e os Emirados Árabes Unidos (3,1%).
Ouro substituindo títulos do tesouro americano
Nas reservas dos bancos centrais, o ouro ultrapassou a relevância dos títulos do governo dos EUA em termos percentuais.
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O fenômeno, que não se observava há quase trinta anos, também é explicado pela desvalorização dos títulos do governo americano, por causa da alta dos rendimentos registrados nas últimas semanas.
O ouro atingiu 27% do total das reservas dos bancos centrais em 27 de agosto, o nível mais alto dos últimos 29 anos.
Enquanto isso, os títulos do Tesouro dos EUA caíram para cerca de 23%, o menor nível desde a Grande Crise Financeira de 2008.
Um terremoto cujo epicentro foi em Wall Street, com a implosão das hipotecas subprime e o colapso do Lehman Brothers.
O ouro também já ultrapassou o euro em reservas globais. Um movimento certificado por um estudo do Banco Central Europeu (BCE), que no final de 2024 dava ao mineral uma participação de 20% contra 16% da moeda única europeia.
Ressalva importante: não é fácil estimar precisamente quantos títulos do Tesouro são mantidos pelos bancos centrais, especialmente aqueles com padrões de transparência mais baixos. Uma parte dos títulos pode ser mantida, por exemplo, por terceiros. Algo que acontece com uma certa frequência na Bélgica.
Ouro sempre presente nos cofres dos Bancos Centrais
O ouro sempre teve um enorme peso nas reservas oficiais dos Estados Unidos e de muitos países europeus.
Os EUA em particular são de longe o maior detentor de reservas de ouro do mundo, com 8.133,5 toneladas em barras, o equivalente a 77,9% das reservas mundiais, de acordo com os dados mais recentes do World Gold Council.
As três potências econômicas da UE também aparecem no top 10 global, com o ouro representando mais de 70% de suas reservas: a Alemanha detém 3.350,25 toneladas de ouro, seguida pela Itália com 2.451,84 toneladas e pela França com 2.437.
Ouro tarifado nos EUA?
Mesmo a incerteza em torno das tarifas sobre o ouro não alterou essa tendência de alta. Muitos analistas temiam que o comercio do metal pudesse enredar na teia da guerra comercial. Especialmente após a nota divulgada em agosto pela Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP) que havia classificado barras de um quilo e de cem onças como mercadorias sujeitas a tarifas.
A medida ameaçou causar perturbações graves no mercado e obstáculos ao funcionamento da Comex, a bolsa dos EUA onde os futuros de ouro são negociados, que aceita entrega apenas em barras de um quilo, as chamadas quilobarras, que geralmente chegam da Suíça, pátria das grandes refinarias que refundem as barras maiores LBMA Good Delivery, que são usadas predominantemente no sistema financeiro e no mercado de Londres, em diferentes formatos.
O mercado só deu um suspiro de alívio quando o presidente Donald Trump reiterou, em 11 de agosto, que o ouro permaneceria imune a tarifas e prometeu uma ordem executiva para esclarecer a questão, deixando muitos desconfiados de um erro ou mal-entendido por parte do CBP.
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