A corrida pelo mercado de medicações para perda de peso e tratamento da obesidade está ganhando novos capítulos. As fabricantes do Mounjaro (Eli Lilly) e do Wegovy e Ozempic (Novo Nordisk) anunciaram praticamente juntas os resultados positivos de desenvolvimento de uma nova safra de remédios, desta vez em comprimidos, que pode ganhar um espaço no cotidiano ainda maior do que as chamadas canetas emagrecedoras, que são injetáveis.
A Novo Nordisk anunciou resultados promissores para a versão em comprimido do Wegovy em um artigo na The New England Journal of Medicine nesta quarta-feira (17/9), apenas um dia depois de a concorrente Eli Lilly publicar resultados no mesmo periódico.
Leia também
Cientista de Harvard prevê “pílula contra envelhecimento” até 2035
Pílula de Harvard aumenta saciedade e faz comer 40% menos, diz estudo
Doses mais potentes de Mounjaro chegam ao Brasil. Saiba valores
Sociedades médicas criticam decisão que exclui Wegovy e Saxenda do SUS
No caso da Novo, se trata de uma versão oral do medicamento que já conhecemos, cujo princípio é a semaglutida. Na realidade, há um remédio com esta tecnologia, o Rybelsus, mas ele é indicado apenas para o tratamento de diabetes tipo 2 por causa da dose baixa (3mg).
Agora, a novo testou uma versão de 25 mg do princípio ativo. No estudo, 205 pessoas tomaram semaglutida oral durante 64 semanas. O grupo perdeu em média 13% do peso, contra 2,2% no grupo placebo. Os efeitos adversos mais comuns foram náusea e indigestão.
A empresa informou que quase um em cada três participantes atingiu perda de peso de 20% ou mais. A farmacêutica submeteu o comprimido à agência reguladora dos Estados Unidos, a FDA, e espera decisão até o fim do ano. A produção piloto já começou em fábricas americanas.
Para que servem as canetas aprovadas pela Anvisa
O Mounjaro, que contém a tirzepatida como princípio ativo, é fabricado pela Eli Lilly. Estudos mostraram a redução de até 25% do peso corporal durante o uso, um dos maiores índices entre as terapias aprovadas no país para esse fim.
O Wegovy e o Ozempic têm a semaglutida como princípio ativo. Ambos são fabricados pela Novo Nordisk e têm indicação de aplicação semanal.
O Wegovy é indicado exclusivamente para tratar a obesidade em pacientes com índice de massa corporal (IMC) acima de 30, ou acima de 27 se houver alguma comorbidade. A aplicação leva à perda média de 20% da massa total em seis meses.
O Ozempic deve ser usado exclusivamente no controle da diabetes tipo 2. Apesar disso, muitos pacientes o utilizam de forma off-label para perder peso, o que preocupa especialistas.
O Victoza e o Saxenda possuem a liraglutida como princípio ativo — uma das primeiras substâncias a ativar os receptores de GLP-1. Essas são as primeiras canetas injetáveis destinadas ao tratamento da diabetes tipo 2 e devem ser usadas diariamente. Embora não tenham recomendação para emagrecimento, estudos mostram a perda de 6% do peso corporal em seis meses.
Disputa com a pílula emagrecedora
No caso da Eli Lilly, o anúncio também foi positivo, mas é de uma droga cujo princípio ainda não é usado. O Mounjaro, sucesso da farmacêutica, usa como princípio a tirzepatida. No novo comprimido que desenvolve, porém, ela testa a orforgliprona.
O novo princípio mostrou resultados positivos em estudo com 3.127 pessoas. A dose mais alta levou a uma perda média de 12,4% do peso em 72 semanas. Quase 20% dos participantes reduziram pelo menos um quinto do peso corporal.
Os efeitos adversos foram semelhantes aos observados com semaglutida. A maioria relatou desconforto gastrointestinal de leve a moderado. Ainda assim, analistas veem no comprimido uma vantagem prática: não exige jejum antes do uso, o que pode atrair pacientes.
A empresa americana estima que a orforgliprona possa gerar vendas anuais de até 25 bilhões de dólares. A expectativa é que o pedido de aprovação seja enviado à FDA ainda este ano, o que pode acelerar a entrada do produto no mercado.
Novas perspectivas e provável preço mais acessível
Medicamentos GLP-1 ganharam popularidade nos últimos anos, mas enfrentam críticas sobre custo, com doses mais altas custando mais de dois salários mínimos no Brasil. O preço, inclusive, tem sido a principal barreira para que as canetas emagrecedoras cheguem ao SUS.
Produzir pílulas, porém, é mais barato e fácil de armazenar, o que pode mudar esse cenário, além de ampliar o alcance pela facilidade de administração.
Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!