Conheça os três animais mais barulhentos do mundo, segundo a ciência

No mundo animal, os recordes de volume não estão nas florestas, montanhas ou desertos, mas sim no fundo do mar. Espécies de animais muito diferentes entre si desenvolveram sons que superam qualquer parâmetro humano de intensidade.

Esses ruídos cumprem funções como caçar em ambientes totalmente escuros, manter comunicação entre indivíduos a longas distâncias e até atordoar presas em segundos. A intensidade dos sons se deve a adaptações do corpo e do comportamento de cada animal.

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Baleia-cachalote

A baleia-cachalote é considerada o animal mais barulhento do planeta. Seus sons, conhecidos como clicks, podem alcançar entre 230 e 236 decibéis debaixo d’água. A título de comparação, o som mais alto já medido na Terra foi a erupção do vulcão Krakatoa, em 1883, que atingiu 310 decibéis. Uma buzina de navio chega a 150 decibéis.

Eles são produzidos em estruturas internas e são direcionados por uma região chamada “melão”, que concentra e orienta as ondas sonoras.

O “melão” funciona como uma lente acústica, agindo de maneira parecida a uma lente de luz. A estrutura concentra e direciona os sons emitidos pela baleia, o que permite que eles se propaguem com precisão e alcancem longas distâncias no oceano.

A propagação dos pulsos curtos atingem presas como lulas e retornam em forma de eco, permitindo à cachalote caçar em águas que passam de mil metros de profundidade, onde a luz não chegam.

“A ecolocalização é o principal, permitindo que a baleia identifique a distância, forma e localização de suas presas. No entanto, os clicks também são usados na comunicação entre indivíduos, especialmente machos que vivem de forma mais solitária, e grupos sociais que interagem por longos períodos”, explica Vinicius Mocelin, professor de biologia do Colégio Positivo, em Brasília.

Além da caça, os cliques servem para comunicação, organizados em padrões rítmicos chamados “codas”, que ajudam no reconhecimento entre indivíduos. Abaixo de 200 metros, a luz desaparece e o som passa a ser o único recurso eficaz de percepção e orientação.

Camarões-pistola

Muito menores, os camarões-pistola (Alpheidae) também figuram entre os animais mais barulhentos do mundo. Eles possuem uma garra desproporcional, que fecha em alta velocidade e cria uma bolha. Quando essa bolha colapsa, gera uma onda de choque acompanhada de um estalo que pode atingir até 218 decibéis — o que é (bem) mais alto que um show de rock, que fica entre 90 e 120 decibéis.

Esse mecanismo serve principalmente para caça. O estalo atordoa peixes pequenos, que ficam imóveis e se tornam presas fáceis. Além disso, os camarões usam os sons para comunicação: quando estão em colônias numerosas, produzem um verdadeiro “tapete sonoro” no ambiente marinho.

Esse ruído pode interferir na comunicação de outras espécies e até nos equipamentos humanos, como sonares. Guilherme Bordignon Ceolin, biólogo, botânico e professor do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, explica como os pesquisadores medem esses sons.

“Existem equipamentos chamados hidrofones, que são microfones adaptados para serem usados no fundo dos oceanos. Eles são capazes de converter as ondas sonoras subaquáticas em sinais elétricos, que são, posteriormente, processados por aparelhos específicos visando analisar diversas características destas ondas sonoras, como amplitude, frequência e nível de pressão”, detalha.

Os camarões podem interferir em ecossistemas sensíveis, como nos recifes de coral. Eles cavam túneis e constroem abrigos, muitas vezes utilizando fragmentos de corais, causando pequenos danos.

Baleia-azul

A baleia-azul, maior animal do planeta, também ocupa lugar entre os mais barulhentos. Suas vocalizações de baixa frequência — entre 10 e 40 hertz — podem chegar a 188 decibéis. Por serem tão graves, esses sons conseguem percorrer quilômetros pelo oceano aproveitando o chamado canal SOFAR, uma camada da água que conduz ondas sonoras com pouca perda de energia.

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O processo de sonoluminescência, onde o estouro da bolha gera luz e calor, tem inspirado pesquisas em áreas como a energia limpa

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Uma baleia-azul adulta pode consumir entre 4 a 5 toneladas de krill por dia

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Essas vocalizações permitem localizar regiões ricas em krill, alimento essencial da espécie, e possibilitam a comunicação entre indivíduos separados por grandes distâncias. Esse recurso é crucial para coordenar deslocamentos e, principalmente, para a reprodução.

Ainda que não utilize a ecolocalização da mesma forma que a cachalote, a baleia-azul depende do som grave para se orientar em ambientes grandes e abertos, onde a visão é limitada. Entretanto, com o crescimento da poluição sonora, o oceano tem exigido cada vez mais adaptações dessas espécies.

“Com o aumento da poluição sonora nos oceanos — causada principalmente por navios de grande porte, exploração sísmica, sonares militares e mineração submarina — muitas espécies de baleias têm alterado seus padrões de vocalização. Elas passaram a emitir sons mais altos em uma tentativa de “fugir” do ruído ambiente. Isso pode comprometer a eficiência da comunicação e aumentar o gasto energético dos animais”, esclarece Ceolin.

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