O mundo dos cogumelos silvestres abriga espécies fascinantes, mas os mais venenosos do mundo representam risco sério à saúde. Suas toxinas podem afetar órgãos vitais, e os efeitos surgem de forma silenciosa, muitas vezes desaparecendo temporariamente antes de provocar complicações graves.
Identificar esses cogumelos venenosos é um desafio, mesmo para coletores experientes. Muitas espécies se parecem com variedades comestíveis, o que aumenta o risco de ingestão acidental. Alterações provocadas pela chuva ou pelo envelhecimento do fungo podem dificultar ainda mais a identificação correta.
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A gravidade da intoxicação depende da espécie, da quantidade ingerida e da rapidez do atendimento médico. Casos severos podem exigir hospitalização prolongada, suporte renal, reposição de eletrólitos e, em situações extremas, transplante de fígado.
Cogumelos mais venenosos do mundo
Apesar de existirem registros de mortes causadas por algumas espécies, determinar quais são os cogumelos mais venenosos do mundo não é uma tarefa tão simples quanto parece.
Segundo Cristiano Coelho Nascimento, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI), com doutorado em biodiversidade vegetal e meio ambiente pelo Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA – São Paulo), essa dificuldade vem do fato de cada espécie produzir toxinas diferentes.
“É difícil definir um ranking absoluto dos cogumelos mais venenosos porque cada espécie possui toxinas distintas, que atuam em órgãos diferentes e por mecanismos variados, o que dificulta a comparação direta. A gravidade da intoxicação também depende da dose ingerida, do peso corporal da vítima e das condições de atendimento médico disponíveis”, explica.
Entretanto, alguns cogumelos se destacam por produzir toxinas letais que afetam principalmente o fígado, os rins e o sistema nervoso. Entre os cinco mais perigosos, estão:
Amanita phalloides (chapéu-da-morte): responsável por grande parte das mortes por ingestão de cogumelos no mundo. Produz amatoxinas que bloqueiam a síntese proteica, levando à falência de órgãos. Cogumelos jovens podem se parecer com champignons, tornando a identificação difícil.
Amanita virosa: possui toxinas semelhantes às da Amanita phalloides, com alto potencial de causar falência hepática. É facilmente confundida com espécies comestíveis.
Galerina marginata: a ingestão em quantidades tóxicas causa danos graves no fígado com vômitos, diarreia, hipotermia e eventual morte se não for tratada rapidamente.
Cortinarius orellanus: produz orellanina, que ataca os rins de forma silenciosa. Os sintomas podem surgir dias ou semanas após a ingestão.
Gyromitra esculenta: contém giromitrina, que se transforma em compostos tóxicos no fígado, causando distúrbios hepáticos e neurológicos.
O envenenamento por Amanita virosa é traiçoeiro. Após a ingestão, os sintomas gastrointestinais (vômitos e diarreia) podem demorar de 6 a 12 horas para aparecer
Outras espécies perigosas incluem Amanita bisporigera, Amanita suballcicia e diversas do gênero Cortinarius. Embora alguns sejam mais comuns em regiões temperadas, a biodiversidade de cogumelos no Brasil é alta, e a presença de espécies tóxicas exige atenção.
Riscos dos cogumelos tóxicos
Ingerir cogumelos venenosos pode danificar órgãos vitais, principalmente fígado e rins, e, em casos graves, levar à falência múltipla de órgãos. As toxinas provocam uma reação inflamatória intensa na qual o organismo libera citocinas e ativa o sistema imune, que em excesso agrava o comprometimento dos órgãos.
O dano à mucosa intestinal aumenta o risco de complicações secundárias, pois bactérias do intestino podem entrar na corrente sanguínea, causando sepse, infecção generalizada que exige tratamento intensivo.
“As toxinas liberadas pelo cogumelo levam à morte celular, especialmente no fígado e nos rins e o sistema imunológico entra em ação secundariamente, reagindo aos danos teciduais, o que pode levar à liberação de citocinas inflamatórias e ativação do sistema imune inato. Isso leva ao risco de falência orgânica múltipla por resposta inflamatória sistêmica”, detalha Renata Zorzet, médica infectologista de Rio Preto.
O atendimento médico rápido é fundamental nesses contextos, já que casos graves podem exigir hospitalização prolongada, suporte renal, reposição de eletrólitos, monitoramento das funções hepáticas e renais e, em situações extremas, transplante de fígado.
A identificação equivocada do cogumelo ingerido aumenta ainda mais os riscos, pois muitas espécies tóxicas se assemelham a variedades comestíveis. Por isso, o consumo de qualquer cogumelo silvestre deve ser feito exclusivamente com orientação especializada.
Principais sintomas de intoxicação por cogumelos venenosos
Náuseas e vômitos.
Diarreia intensa, às vezes aquosa ou sanguinolenta.
Cólicas abdominais e sangramentos.
Icterícia e confusão mental.
Falência hepática e renal em casos graves.
Função ecológica e usos medicinais
Apesar de letais para humanos, os cogumelos venenosos desempenham papéis importantes na natureza. Suas toxinas os protegem contra fungívoros e limitam a competição com outros organismos, garantindo sobrevivência e reprodução em ambientes diversos.
Algumas dessas substâncias também despertam interesse científico. Amanitinas, por exemplo, têm sido estudadas por sua capacidade de bloquear a multiplicação de células cancerígenas, enquanto o muscimol, presente no Amanita muscaria, é pesquisado para epilepsia e proteção de tecidos nervosos.
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