Com ‘ilha solar’, Itaipu começa a testar outros jeitos de gerar energia

A usina de Itaipu, na fronteira entre Brasil e Paraguai, concluiu a montagem da sua primeira “ilha solar” flutuante no reservatório do Rio Paraná. O projeto-piloto, formado por mais de 1,5 mil painéis fotovoltaicos, deve começar a gerar energia em novembro.

Responsável por cerca de 9% da eletricidade consumida no Brasil, Itaipu busca diversificar suas fontes de energia. Além de painéis solares, estão nos planos: biogás e hidrogênio verde.

Itaipu mira em novas matrizes para dobrar sua capacidade de gerar energia

A hidrelétrica de Itaipu está entre os principais polos de geração de energia do Brasil e do Paraguai há mais de quatro décadas. Agora, a empresa mira novas matrizes, num esforço para dobrar a capacidade instalada e ampliar a segurança energética. 

O movimento passa por projetos solares, pesquisas em hidrogênio verde e iniciativas em biogás, em parceria com centros de inovação.

Ilha solar flutuante

O projeto-piloto de Itaipu consiste numa “ilha solar” montada sobre o reservatório do Rio Paraná. 

O projeto-piloto da usina de Itaipu consiste numa “ilha solar” montada sobre o reservatório do Rio Paraná (Imagem: Elder Alejandro Baez Flores/Itaipu Nacional)

Foram instalados 1.568 painéis fotovoltaicos, que ocupam uma área de 7,6 mil metros quadrados – quase o tamanho de um campo de futebol. A estrutura foi ancorada no leito do rio, numa região próxima ao vertedouro da usina.

O investimento foi de US$ 854,5 mil (cerca de R$ 4,5 milhões). A obra ficou a cargo de um consórcio binacional, formado pela empresa brasileira Sunlution e pela paraguaia Luxacril, vencedora da licitação. 

A primeira fase da montagem foi concluída no fim de setembro, após ajustes no cronograma por conta das chuvas e da necessidade de garantir a segurança dos trabalhadores, explicou o engenheiro Márcio Massakiti Kubo, da Superintendência de Energias Renováveis, à Agência Brasil.

A previsão é de que a ilha entre em operação em novembro. Antes disso, serão realizados testes “frios” (sem geração de energia) e “quentes” (com energização). 

Quando começar a funcionar, a capacidade será de 1 MWp (megawatt-pico), suficiente para abastecer cerca de 650 casas. Essa energia será consumida pela própria usina, sem entrar no Sistema Interligado Nacional.

Cobrar 10% do reservatório com painéis de energia solar dobraria a capacidade atual da usina de Itaipu (Imagem: MDV Edwards/Shutterstock)

Depois da inauguração, o sistema passará por um período de um ano de monitoramento. Técnicos vão avaliar tanto a viabilidade técnica e os benefícios da geração solar quanto possíveis impactos ambientais. 

Entre os pontos em análise estão alterações no habitat de aves e peixes, qualidade da água e floração de algas.

Estimativas internas apontam que cobrir 1% do reservatório com painéis poderia gerar 3,6 TWh por ano, enquanto a ocupação de 10% dobraria a capacidade atual da usina, hoje em 14 mil MW.

Renováveis além da hidrelétrica

A experiência com a “ilha solar” é uma das frentes em que Itaipu busca diversificação. 

Hidrelétrica de Itaipu está entre os principais polos de geração de energia do Brasil e do Paraguai há mais de quatro décadas (Imagem: Joédson Alves/Agência Brasil)

Além da solar, a empresa investe em projetos de hidrogênio verde, produzindo o gás por eletrólise da água para uso como combustível ou insumo industrial. E em biogás, obtido de resíduos orgânicos e da suinocultura, com capacidade instalada para abastecer 1,5 mil casas. 

Há também pesquisas em bio-syncrude e combustíveis sustentáveis de aviação.

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Brasil, Paraguai e o futuro binacional

Itaipu já produziu mais de 3,1 bilhões de MWh desde 1984, volume suficiente para abastecer o mundo por 44 dias. Hoje, responde por cerca de 9% da energia consumida no Brasil e atua como uma espécie de “bateria natural” do sistema, acionada em momentos de pico. 

De 1984 para cá, a usina de Itaipu produziu energia suficiente para abastecer o mundo por 44 dias (Imagem: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Toda a produção é dividida igualmente entre Brasil e Paraguai, mas a demanda paraguaia vem crescendo com a instalação de data centers, operações de inteligência artificial (IA) e mineração de criptomoedas, o que deve reduzir o excedente tradicionalmente absorvido pelo lado brasileiro.

A projeção é que até 2035 não haja mais sobra de energia. E o cenário já levou à discussão sobre a construção de novas turbinas e à necessidade de rever o tratado binacional, que ainda limita Itaipu à geração hidrelétrica.

(Esta matéria também usou informações de outras duas reportagens da Agência Brasil esta e esta.)

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