Cientistas revertem Alzheimer em camundongos usando nanopartículas

Pesquisadores da Espanha, China e Reino Unido desenvolveram uma terapia inovadora que conseguiu reverter sinais do Alzheimer em camundongos. A técnica, divulgada nesta terça-feira (7/10) na revista Signal Transduction and Targeted Therapy, usa nanopartículas que funcionam como medicamentos por si só, ao invés de transportadores de fármacos.

O invés de atacar diretamente os neurônios, o tratamento foca na barreira hematoencefálica, a interface que regula o ambiente cerebral e protege o órgão de toxinas e patógenos. Ao restaurar essa barreira, os cientistas conseguiram reativar o sistema natural do cérebro para eliminar proteínas nocivas, como a beta-amiloide, que se acumulam no Alzheimer.

O que é o Alzheimer?

O Alzheimer é uma doença que afeta o funcionamento do cérebro de forma progressiva, prejudicando a memória e outras funções cognitivas.
Ainda não se sabe exatamente o que causa o problema, mas há indícios de que ele esteja ligado à genética.
É o tipo mais comum de demência em pessoas idosas e, segundo o Ministério da Saúde, responde por mais da metade dos casos registrados no Brasil.
O sinal mais comum no início é a perda de memória recente. Com o avanço da doença surgem outros sintomas mais intensos, como dificuldade para lembrar de fatos antigos, confusão com horários e lugares, irritabilidade, mudanças na fala e na forma de se comunicar.

Como as nanopartículas funcionam

Os camundongos utilizados no estudo foram geneticamente programados para produzir excesso de proteína beta-amiloide e apresentar declínio cognitivo, simulando a progressão da doença em humanos. Após apenas três doses do tratamento, os pesquisadores observaram uma redução de 50 a 60% da proteína no cérebro em uma hora.

Os efeitos terapêuticos se mantiveram por meses. Em um caso, um camundongo de 12 meses, equivalente a um humano de 60 anos, recebeu as nanopartículas e seis meses depois demonstrava comportamento semelhante ao de animais saudáveis, como se tivesse revertido a progressão da doença.

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De acordo com o pesquisador Giuseppe Battaglia, do Instituto de Bioengenharia da Catalunha, a restauração da vasculatura cerebral cria um efeito em cascata que permite eliminar a beta-amiloide e outras moléculas prejudiciais, reequilibrando todo o sistema.

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Alzheimer é uma doença degenerativa causada pela morte de células cerebrais e que pode surgir décadas antes do aparecimento dos primeiros sintomas

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Por ser uma doença que tende a se agravar com o passar dos anos, o diagnóstico precoce é fundamental para retardar o avanço. Portanto, ao apresentar quaisquer sintomas da doença é fundamental consultar um especialista

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Apesar de os sintomas serem mais comuns em pessoas com idade superior a 70 anos, não é incomum se manifestarem em jovens por volta dos 30. Aliás, quando essa manifestação “prematura” acontece, a condição passa a ser denominada Alzheimer precoce

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Na fase inicial, uma pessoa com Alzheimer tende a ter alteração na memória e passa a esquecer de coisas simples, tais como: onde guardou as chaves, o que comeu no café da manhã, o nome de alguém ou até a estação do ano

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Desorientação, dificuldade para lembrar do endereço onde mora ou o caminho para casa, dificuldades para tomar simples decisões, como planejar o que vai fazer ou comer, por exemplo, também são sinais da manifestação da doença

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Além disso, perda da vontade de praticar tarefas rotineiras, mudança no comportamento (tornando a pessoa mais nervosa ou agressiva), e repetições são alguns dos sintomas mais comuns

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Segundo pesquisa realizada pela fundação Alzheimer’s Drugs Discovery Foundation (ADDF), a presença de proteínas danificadas (Amilóide e Tau), doenças vasculares, neuroinflamação, falha de energia neural e genética (APOE) podem estar relacionadas com o surgimento da doença

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O tratamento do Alzheimer é feito com uso de medicamentos para diminuir os sintomas da doença, além de ser necessário realizar fisioterapia e estimulação cognitiva. A doença não tem cura e o cuidado deve ser feito até o fim da vida

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Perspectivas para novas terapias

Segundo os autores do estudo, o segredo da técnica está na proteína LRP1, que normalmente transporta a beta-amiloide do cérebro para o sangue. No Alzheimer, esse sistema falha, permitindo que a proteína tóxica se acumule. As nanopartículas atuam como um interruptor molecular, imitando ligantes do LRP1 e reiniciando o transporte de resíduos, restaurando a função natural da barreira cerebral.

“Nosso estudo demonstrou eficácia notável na obtenção de rápida depuração de Aβ, restaurando a função saudável na barreira hematoencefálica e levando a uma reversão impressionante da patologia da doença”, conclui Lorena Ruiz Perez, pesquisadora do grupo de Biônica Molecular do Instituto de Bioengenharia da Catalunha (IBEC) e professora assistente Serra Hunter na Universidade de Barcelona (UB), em comunicado.

O estudo é preliminar e ainda precisa de mais testes para comprovar a eficácia e segurança da técnica antes de, um dia, ser replicado em humanos.

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