Um artigo publicado no Journal of Geophysical Research: Planets traz novas pistas sobre o misterioso brilho do asteroide Psyche – uma rocha espacial que reluz no cinturão principal entre Marte e Júpiter.
De aparência irregular, que lembra uma batata metálica, Psyche tem a propriedade intrigante de refletir quase um terço da luz solar que recebe, sendo pelo menos duas vezes mais brilhante do que a maioria dos asteroides conhecidos.
Essa alta refletividade levou cientistas a suspeitarem que esse asteroide é formado principalmente por metal, talvez o núcleo exposto e rico em ferro de um planeta em formação que nunca chegou a se consolidar.
Conceito artístico do asteroide rico em metais 16 Psyche. Crédito: Arizona State University
Ao site LiveScience, o pesquisador Samuel Courville, da Universidade Estadual do Arizona, descreveu o asteroide Psyche como “uma relíquia dos primórdios do Sistema Solar”. Estimativas indicam que o valor dos metais em sua composição pode ultrapassar impressionantes US$100 quintilhões, o que o tornaria o corpo mais “valioso” do espaço.
Camada metálica pode ser apenas superficial
Mas, de acordo com os novos dados, esse brilho metálico pode ser apenas superficial. Cálculos realizados em 2020 mostraram que Psyche é menos denso do que se esperava de um corpo feito apenas de ferro e níquel. Sua densidade, entre 3.700 e 4.100 kg por metro cúbico, representa apenas metade do valor esperado para um asteroide totalmente metálico. Isso sugere que ele tem uma mistura de materiais rochosos e metálicos, com uma camada rica em ferro e níquel concentrada perto da superfície.
Os cientistas ainda tentam entender como essa espécie de “tapete” metálico se formou. Uma das hipóteses mais aceitas envolve o ferrovulcanismo, um processo semelhante ao vulcanismo comum, mas com metal derretido no lugar da lava rochosa. “O ferrovulcanismo é como o vulcanismo normal, só que a ‘lava’ é ferro líquido”, explica Courville, que não teve envolvimento no novo estudo. A ideia foi proposta em 2019 e sugere que, na infância de Psyche, seu núcleo metálico teria se solidificado de fora para dentro, criando pressão suficiente para que o ferro fundido escapasse por fissuras até a superfície.
Esse fenômeno, porém, só ocorre sob condições químicas específicas. Para investigar, o doutorando Jaap Jorritsma, da Universidade de Tecnologia de Delft, e o professor Win van Westrenen, da Universidade Vrije de Amsterdã, ambas na Holanda, criaram modelos de computador simulando a composição de Psyche. Eles compararam três tipos de meteoritos conhecidos: condritos EH (pobres em ferro), condritos H (com ferro moderado) e mesosideritos (ricos em ferro).
Representação esquemática do mecanismo de ferrovulcanismo para um dos cenários. Os números nos eixos indicam os raios do núcleo interno fundido, do núcleo externo sólido e do manto, em km, a partir do centro do núcleo nos eixos a e b. A textura branca indica a porosidade do manto. Crédito: JJ Jorritsma e W. van Westrenen
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As simulações mostraram que apenas composições semelhantes às dos meteoritos ricos em ferro, como as mesosideritas, teriam pressão interna suficiente para gerar ferrovulcanismo. Asteroides com pouco ferro não desenvolveriam núcleos grandes o bastante para liberar metal fundido. Já os condritos H poderiam produzir esse tipo de atividade apenas em casos de densidade mais alta.
Representação artística da missão Psyche, da NASA, lançada para investigar asteroide precioso de perto. Crédito: NASA
Essas conclusões, embora promissoras, ainda precisam ser confirmadas por observações diretas. Para isso, a NASA desenvolveu a missão Psyche, lançada há exatos dois anos, em 13 de outubro de 2023, que deve chegar ao asteroide em julho de 2029. Durante dois anos, a sonda vai fotografar a superfície e analisar sua composição com instrumentos espectroscópicos.
Segundo Courville, se forem encontradas grandes áreas metálicas ou vestígios de antigos fluxos de ferro, será uma forte evidência de que Psyche já foi palco de erupções metálicas – um vulcanismo de ferro que transformou a relíquia cósmica em um verdadeiro tesouro brilhante do Sistema Solar.
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