Imagine uma linha de montagem industrial onde os braços robóticos não se movem de forma rígida e isolada, mas sim com delicadeza, precisão e harmonia, como no balé. Essa é a visão que o Google DeepMind, em uma colaboração de ponta com a University College London e a empresa de robótica Intrinsic, está transformando em realidade com o seu mais recente sistema de inteligência artificial: o RoboBallet (ou “balé robótico” em português).
Conforme publicado em artigo na ScienceRobotics, essa tecnologia promete revolucionar a automação industrial, tornando-a mais inteligente, rápida e flexível. Atualmente, a programação de robôs para tarefas de fábrica é um processo notoriamente lento, caro e extremamente complexo. Especialistas em robótica dedicam centenas, por vezes milhares, de horas para programar manualmente cada movimento, cada sequência e cada desvio para evitar colisões.
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Esse trabalho meticuloso não só consome um tempo valioso, como também resulta em sistemas rígidos; qualquer pequena alteração no layout da fábrica, na tarefa a ser executada ou a falha de um único robô pode exigir que quase todo o processo de programação seja refeito do zero.
O que é e como funciona o RoboBallet do Google DeepMind
O RoboBallet chega para quebrar este cenário. Em vez de depender de linhas de código escritas por humanos, o sistema utiliza uma abordagem sofisticada de IA, combinando redes neurais de grafos (GNN) com aprendizagem por reforço (RL). De forma simplificada, a IA trata o ambiente da fábrica como um grande mapa interligado, onde os robôs, as tarefas e os obstáculos são “nós” num grafo matemático, assim aprendendo por tentativa e erro a melhor forma de orquestrar os movimentos.
Através de milhões de simulações, o sistema descobre autonomamente como alocar tarefas, agendar movimentos e planejar trajetórias eficientes para múltiplos robôs, garantindo que eles trabalhem em conjunto sem colidirem.
Confira o vídeo de demonstração da Intrinsic:
O porquê do nome “RoboBallet”, ou “Balé Robótico”
O nome “balé robótico” é uma analogia perfeita. Como explica Matthew Lai, investigador principal do projeto, o RoboBallet “transforma a robótica industrial numa dança coreografada, onde cada braço se move com precisão, propósito e consciência dos seus colegas”. Nos testes de laboratório, o sistema demonstrou sua capacidade ao coordenar oito braços robóticos para realizar 40 tarefas de alcance num ambiente complexo e denso em obstáculos.
O RoboBallet gerou planos de movimento otimizados e de alta qualidade em meros segundos, uma proeza que levaria dias ou semanas a especialistas humanos. Além disso, a sua grande vantagem é a generalização: mesmo quando exposto a novos layouts e configurações nunca antes vistos, o sistema adapta-se instantaneamente, sem necessidade de retreinamento.
Com esta inovação, podemos pensar em um futuro onde as fábricas serão ecossistemas dinâmicos e inteligentes. Com o RoboBallet, será possível reconfigurar uma linha de produção quase em tempo real, adaptar-se a falhas inesperadas e otimizar o espaço para máxima eficiência. O papel dos engenheiros humanos não será excluído, mas evoluirá, deixando de ser programadores minuciosos para se tornarem estrategistas de alto nível, que definem os objetivos gerais e deixam a complexa e “coreografia” dos movimentos a cargo da inteligência artificial.
O post O balé robótico da DeepMind: uma IA para coordenar robôs de fabricação apareceu primeiro em Olhar Digital.