Plantas sentem dor? Entenda o que a ciência já descobriu

Quando uma planta é cortada, queimada ou atacada por insetos, ela reage de várias maneiras diferentes. Mas essas reações significam que ela sente dor da mesma forma que animais ou humanos?

Para responder a essa pergunta é preciso compreender os mecanismos biológicos e químicos que permitem às plantas detectarem e responderem a estímulos externos. Estudos mostram que elas possuem formas complexas de reagir a agressões, mesmo sem ter cérebro ou sistema nervoso.

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Plantas sentem dor?

A dor, do ponto de vista biológico, é definida como a percepção de estímulos nocivos por meio de um sistema nervoso central. Como as plantas não possuem neurônios ou cérebro, elas não podem sentir dor. No entanto, isso não significa que são passivas diante de agressões.

Quando sofrem danos físicos, as plantas ativam mecanismos de defesa, como reforço das paredes celulares com substâncias como lignina e calose, que dificultam a entrada de patógenos. Elas também liberam compostos químicos, como ácidos salicílico e jasmônico.

Esses compostos químicos funcionam como sinais internos e externos, ajudando a coordenar respostas defensivas em diferentes partes do organismo. Além disso, algumas espécies exibem estímulos elétricos entre suas células, semelhantes aos impulsos nervosos de animais, embora sem um sistema central que interprete esses sinais.

Essa comunicação permite que a planta ajuste seu crescimento e reações, mas não configura percepção consciente de dor. Rosana Melquides, bióloga e bioquímica no laboratório da clínica Cosme e Silva, da Secretaria Estadual de Roraima, em Boa Vista, detalha que as plantas possuem uma estrutura de análise bem distribuída.

“As plantas contam com um sistema de processamento descentralizado, no qual cada célula pode atuar como ponto de coleta de informações e distribuí-las por toda a planta, possibilitando respostas à luz, à gravidade, a estímulos químicos e até mesmo a sons e ao tato”, explica.

Comunicação e sensibilidade

As plantas podem “avisar” umas às outras sobre ameaças através de sinais químicos. Eles estimulam a ativação de defesa em plantas vizinhas e, apesar de parecer uma forma de comunicação, não envolve consciência ou sensação de dor, mas sim respostas bioquímicas adaptativas.

Guilherme Bordignon Ceolin, botânico e professor do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), conta que essa comunicação entre as plantas funciona como um sinal de “alerta”.

“Uma analogia realista seria comparar a comunicação química que acontece entre plantas em resposta a um ataque de herbívoros à sinalização que certos animais emitem para avisar quando predadores estão por perto, como ocorre com certas espécies de primatas, que emitem gritos de alerta quando há perigo na área”, esclarece.

Além disso, algumas espécies demonstram respostas particularmente aprimoradas, como a planta Boquila trifoliolata, que consegue imitar o formato das folhas de plantas próximas, ajustando seu crescimento de acordo com sinais luminosos e ambientais.

A imagem mostra duas folhas de Boquila trifoliolata. A do lado direito imita uma de plástico

Camila Braga, professora de biologia do Colégio Objetivo de Brasília, explica que não há um consenso entre biólogos sobre a possibilidade de considerar as plantas como seres sensíveis.

“A maioria dos biólogos aceita que plantas têm alta sensibilidade ambiental e redes complexas de comunicação química, mas rejeita a ideia de que elas tenham ‘sentir’ ou ‘consciência’”, afirma.

Esse tipo de sensibilidade mostra que a inteligência vegetal é distinta da humana, mas não menos sofisticada. A forma como as plantas percebem o ambiente e reagem a estímulos sugere uma adaptação estratégica, capaz de aumentar suas chances de sobrevivência em diferentes condições.

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