Não é raro que crianças tenham dificuldades para ir ao banheiro. Se acostumar com a fralda e com o penico na primeira infância pode ser difícil, mas a família de Gaspard Ronsseray, de 3 anos, começou a desconfiar que a prisão de ventre dolorosa que o menino sentia não era comum. Na realidade, a constipação intestinal foi sintoma de um câncer raro e grave.
A família, que mora em Hammersmith, Londres, percebeu os sintomas de Gaspard em 2018. Além da prisão de ventre, o garoto começou a reclamar de dores em uma das pernas. O médico clínico prescreveu medicamentos para constipação, mas o tratamento não surtiu efeito.
Com o passar dos dias, Gaspard ficou pálido, perdeu o apetite, deixou de brincar e demonstrava cansaço constante. Enquanto aguardavam o resultado de um exame, os pais notaram que o abdômen do filho estava muito inchado e o levaram às pressas ao hospital. Foi quando veio o diagnóstico foi de rabdomiossarcoma, um câncer considerado raro.
Leia também
Após relato de Leifert, médicos alertam sobre câncer ocular infantil
Câncer infantil: pesquisa com minitumores aumenta esperança de cura
10 crianças concebidas com esperma do mesmo doador desenvolvem câncer
EUA deporta mães e filhos para Honduras, incluindo criança com câncer
Tamanho do tumor
As varreduras revelaram um tumor de 12 centímetros entre a próstata e a bexiga e uma biópsia confirmou o diagnóstico de rabdomiossarcoma em estágio três, um tipo raro de câncer que pode atingir qualquer tecido mole no corpo, sendo mais comum em crianças.
Iniciou-se uma rotina pesada de tratamento para a família. “Eram cinco dias seguidos de quimioterapia forte, duas semanas de pausa e outro ciclo. Meu filho ficou internado por meses. Ele perdeu 25% do peso porque não comia. Também não andava, fazia fisioterapia diária e o tumor pressionava o nervo ciático”, conta Caroline à página do hospital.
De março a maio de 2019, Gaspard passou três meses na Flórida, nos Estados Unidos, onde recebeu radioterapia por feixe de prótons, uma terapia avançada para diminuir o tamanho do tumor. Em março, o câncer havia reduzido para cerca de sete centímetros e, em julho, estava entre dois e três, até que desapareceu.
Em maio de 2024, Gaspard comemorou cinco anos sem sinais de câncer em seu organismo. O risco desse tipo de câncer voltar é mínimo.
Cânceres infantis são raros
Embora o rabdomiossarcoma seja o terceiro mais comum entre os sarcomas, cânceres generalistas dos tecidos moles, o Manual MSD estima que nos EUA o número de casos anuais da doença seja inferior a 400. Casos de câncer em crianças são muito mais raros que em adultos, mas também podem ser especialmente agressivos pela velocidade de produção de céulas do organismo.
Os sintomas variam conforme a localização do tumor, mas no caso de câncer geniturinário, como o do menino, há dor abdominal, massa abdominal palpável, dificuldades para urinar, constipação, diarreia, sangue nas fezes e perda de peso sem explicação.
Segundo a oncologista Mariana Michalowski, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope), a agilidade no diagnóstico pode ser decisiva: “Quanto antes conseguimos identificar a doença, maiores são as chances de que a criança ou o jovem esteja menos adoecido, com uma doença mais localizada, o que significa um tratamento menos intensivo. O câncer da infância e da juventude é uma doença curável”, pontua a médica.
O tratamento é conduzido por uma equipe multidisciplinar e pode incluir cirurgia para remoção do tumor, quimioterapia e radioterapia. A maioria das crianças maiores de 1 ano e menores de 10 tem boas chances de recuperação sem sequelas e com baixo risco de reicidivas.
Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!