Os níveis de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera atingiram um novo recorde em 2024, segundo relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), ligada à ONU, divulgado nesta quarta-feira (15/10).
O aumento foi o maior já registrado desde o início das medições modernas, em 1957, e elevou a concentração média global de CO2 para 424 partes por milhão — ou seja, para cada milhão de moléculas de ar, 424 são de dióxido de carbono.
O documento acende um alerta global sobre o avanço do aquecimento da Terra e chega às vésperas da COP 30, que será realizada em novembro, em Belém (PA). A conferência reunirá representantes de vários países para discutir formas de conter as emissões de gases de efeito estufa e acelerar a transição energética.
Crescimento sem precedentes
De acordo com o relatório, as taxas de crescimento do CO2 triplicaram desde a década de 1960. O aumento médio anual passou de 0,8 parte por milhão para 2,4 nas últimas décadas, impulsionado pela queima contínua de combustíveis fósseis, desmatamento e intensificação dos incêndios florestais.
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Os cientistas destacam que 2024 foi o ano mais quente já registrado no planeta, resultado direto do aquecimento global somado aos efeitos do fenômeno El Niño. A combinação desses fatores reduziu a capacidade de florestas e oceanos de absorver o excesso de carbono, o que preocupa os pesquisadores.
“Há sinais de que os sumidouros naturais de CO2, como florestas e oceanos, estão perdendo eficiência, isso significa que mais dióxido de carbono permanece na atmosfera por mais tempo, intensificando o aquecimento global”, afirmou Oksana Tarasova, cientista da OMM, em comunicado.
Efeito duradouro
O dióxido de carbono é o principal gás do efeito estufa e permanece ativo na atmosfera por séculos, o que faz com que os impactos atuais se estendam por gerações.
“O calor retido pelo CO2 e outros gases está turbinando nosso clima e levando a eventos extremos mais frequentes. Reduzir as emissões é essencial não apenas para o clima, mas também para a segurança econômica e o bem-estar das populações”, disse Ko Barrett, secretária-geral adjunta da OMM.
Além do CO2, o relatório registrou recordes também nas concentrações de metano e óxido nitroso, segundo e terceiro gases mais relevantes para o efeito estufa. As emissões de metano estão ligadas à exploração de combustíveis fósseis, pecuária e decomposição de resíduos, enquanto o óxido nitroso vem principalmente do uso de fertilizantes e de processos industriais.
Principais gases do efeito estufa
O dióxido de carbono (CO2) é responsável por cerca de 65% do efeito estufa, e é liberado principalmente pela queima de combustíveis fósseis, desmatamento e processos industriais.
O metano (CH4) contribui com cerca de 20% no efeito estufa. Sua origem está principalmente na agricultura, especialmente na criação de gado, além de processos industriais e queima de combustíveis.
Já o óxido nitroso (N2O) é responsável por aproximadamente 5% do efeito estufa, e é emitido pela agricultura, principalmente pela aplicação de fertilizantes, e também por processos industriais.
Os fluorados (F-gases) são gases poderosos usados em equipamentos de refrigeração e ar condicionado, responsáveis por cerca de 2% do efeito estufa.
Os óxidos de enxofre (SOx), embora não sejam tão predominantes quanto os outros gases, contribuem para a formação de aerossóis, que podem refletir a radiação solar e resfriar o planeta, causando chuvas ácidas e poluindo o ar.
Desafio global
Segundo a OMM, cerca de metade de todo o CO2 emitido anualmente permanece na atmosfera, enquanto o restante é absorvido por ecossistemas terrestres e oceânicos. Mas esse equilíbrio está ameaçado. Com o aumento das temperaturas, os oceanos retêm menos gás, e as florestas sofrem com secas prolongadas e queimadas mais intensas.
O boletim foi divulgado antecipadamente para subsidiar as discussões da COP 30. O encontro, que será sediado pela primeira vez na Amazônia, deve reforçar a urgência de reduzir as emissões e adotar metas mais ambiciosas de neutralidade de carbono.
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