A pressão do governo americano para inviabilizar um acordo histórico que reduziria as emissões globais do transporte marítimo parece ter dado certo. O acordo seria assinado em uma sessão da Organização Marítima Internacional (OMI), que reuniu representantes de mais de 100 países em Londres, mas foi encerrado após intervenções dos EUA e da Arábia Saudita, segundo a BBC.
As negociações estavam praticamente concluídas desde abril e seriam oficializadas nesta sexta-feira (17), mas o governo saudita apresentou uma moção para adiar as conversas em um ano. Votaram a favor do adiamento Arábia Saudita, EUA e Rússia, alguns deles alegando que o acordo poderia elevar preços para os consumidores finais. A China, que inicialmente havia aprovado o acordo, acabou apoiando a moção.
Estados insulares, incluindo as Bahamas, também mudaram de lado, enquanto Antígua e Barbuda, que entraram em consenso em abril, se abstiveram. À BBC, um delegado do grupo disse que as nações insulares foram fortemente pressionadas pelo governo Trump para mudar de posição – e esses países dependem dos EUA para o comércio, admitiu ele.
O presidente americano chegou a chamar o plano de “golpe verde”, e representantes da Casa Branca vinham ameaçando os países com tarifas, caso votassem a favor, segundo a reportagem. Em um post no X, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, disse que o resultado representa uma “grande vitória” para Trump.
O que previa o acordo?
O Marco Líquido Zero da Organização Marítima Internacional (OMI) é o primeiro no mundo a combinar limites obrigatórios de emissões e preços de emissões de gases de efeito estufa em todo um setor industrial.
Aprovadas pelo Comitê de Proteção do Meio Ambiente Marinho durante a 83ª sessão realizada em abril, as medidas incluem um novo padrão de combustível para navios e um mecanismo global de precificação de emissões.
Essas regras, que seriam adotadas formalmente a partir de outubro antes de entrarem em vigor em 2027, se tornariam obrigatórias para grandes navios oceânicos com arqueação bruta superior a 5.000 toneladas, que emitem 85% do total de emissões de CO₂ do transporte marítimo internacional.
De acordo com a regulamentação, os navios seriam obrigados a reduzir, ao longo do tempo, sua intensidade anual de emissão de gases de efeito estufa, enquanto aqueles que usam tecnologias de energia limpa ou quase zero seriam elegíveis para recompensas financeiras através do Fundo Net-Zero da OMI – que também seria usado para apoiar iniciativas de transição justa em países em desenvolvimento.
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Resultado decepcionante
Em nota, a Câmara Internacional de Transporte Marítimo (ICS), associação comercial global que representa mais de 80% da frota mercante mundial, disse estar “desiludida” com o fato de os Estados-Membros da OMI não terem conseguido chegar a um acordo. Para a entidade, o marco traçaria um caminho claro para a transição do transporte marítimo para emissões líquidas zero.
“Estamos decepcionados que os Estados-membros não tenham conseguido chegar a um acordo sobre o caminho a seguir nesta reunião. A indústria precisa de clareza para poder realizar os investimentos necessários para descarbonizar o setor marítimo, em linha com as metas estabelecidas na estratégia de GEE da OMI”, disse Thomas A. Kazakos, Secretário-Geral do ICS.
“Como indústria, continuaremos a trabalhar com a OMI, que é a melhor organização para fornecer as regulamentações globais necessárias para uma indústria global, acrescentou ele. A sessão extraordinária sobre o plano será retomada dentro de 12 meses. Enquanto isso, os Estados-Membros continuarão a trabalhar para chegar a um consenso, de acordo com a OMI.
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