A caverna de Veryovkina, localizada no maciço de Arabika, na Geórgia, foi confirmada como o abismo mais profundo da Terra. Uma série de 30 missões de exploradores russos, embora tenham diminuído em algumas dezenas o tamanho do maciço geológico, confirmaram a marca de 2.209 metros de profundidade em 2025. Até 1980, apenas os primeiros 440 metros da caverna eram conhecidos.
A profundidade da caverna é tão grande que o maior prédio do mundo, o Burj Khalifa, construído em Dubai, nos Emirados Árabes, “caberia” duas vezes e meia dentro da caverna. Ele tem “apenas” 843 metros de altura. Dois prédios e meio dele somariam 2.070 metros.
O interior da caverna mantém temperaturas entre 4ºC e 10°C, umidade permanente e completa ausência de luz. Rios subterrâneos cruzam túneis estreitos e silenciosos, formando um ecossistema próprio e provavelmente lar de seres vivos desconhecidos. Ali vivem espécies adaptadas ao isolamento, como peixes sem olhos e bactérias que consomem minerais.
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Em um vídeo que circula nas redes sociais, um explorador dentro da caverna atira uma pedra com força para o fundo do abismo e o impacto sonoro só é ouvido mais de 18 segundos depois, revelando o tempo que ela leva para chegar ao fundo do abismo.
Logo, o acesso a este local exige preparo extremo e muitos equipamentos. Já na entrada a caverna é traiçoeira: após seu pórtico, com cerca de quatro metros de diâmetro, ela leva a um duto vertical de 32 metros. Dali em diante, a descida ocorre por túneis estreitos e trechos inundados, tudo em total escuridão.
A região ao redor da Veryovkina também abriga outras três cavernas entre as mais profundas do planeta. A segunda colocada é a Krubera-Voronja, com 2.140 metros de profundidade conhecida.
Em seguida vem a caverna de Sarma, com 1.830 metros de profundidade, mas imagina-se que seja mais, já que a exploração dela é muito mais desafiadora e só começou a ser explorada em 2012.
Por fim, fechando a lista das quatro gigantes da região, a Snezhnaya, que tem sua abertura totalmente coberta por neve e alcança até 1.760 metros.
Membro da equipe exploradora de 2018 passando pela passagem inundada da caverna de Veryovkina a uma profundidade de -1.400 m
Expedição sob risco
Na jornada de 2024 que permitiu aos pesquisadores reverem o tamanho da Veryovkina para 20 metros a menos do que era anteriormente conhecido, um grupo de espeleólogos desceu em busca de novas passagens e possíveis espécies desconhecidas.
Três dias depois, a exploração quase terminou em desastre. Dois integrantes haviam alertado sobre o risco de inundação, mas a equipe seguiu confiante.
A história quase teve um final trágico. “Repentinamente, uma enorme torrente de água branca apareceu de um buraco nas paredes da caverna e eu fiquei boquiaberto ao ver esta enorme parede branca de água aparecendo repentinamente”, contou o fotógrafo Robbie Shone , um dos participantes da missão de agosto de 2024, à revista Lad Bible.
Segundo Shone, a pressão da água era tão intensa amassava a cabeça contra os ombros. O grupo desmontou o acampamento rapidamente e subiu por uma fenda até um ponto seguro, onde estava a maioria dos suprimentos. Mesmo após horas de tensão pelo volume desconhecido de água que poderia chegar até eles e pelo frio intenso, todos sobreviveram.
Tragédia no abismo
O final da história, porém, nem sempre é positivo. O especialista em cavernas (espeleólogo) russo Sergei Kozeev desapareceu em novembro de 2020. Por nove meses, não houve notícias dele e em agosto de 2021, exploradores encontraram cordas e pertences na entrada de Veryovkina. Ele havia tentado uma aventura solo contra a caverna.
O corpo de Kozeev foi achado a 900 metros de profundidade, ainda preso a uma corda. Ele ficou imobilizado, sem conseguir subir ou descer, e pode ter morrido de hipotermia. O resgate do cadáver levou duas semanas, reforçando a fama de perigo extremo do local.
Geólogos acreditam que Veryovkina ainda guarda passagens inexploradas. As condições extremas, a instabilidade do terreno e a ausência de luz tornam cada incursão um desafio. Pequenas mudanças de temperatura ou umidade podem transformar o ambiente em armadilha fatal.
Mesmo com os riscos, novas expedições seguem em andamento. Para os cientistas, o abismo representa uma fronteira natural ainda em descoberta, um lembrete de que, nas profundezas da Terra, cada metro conquistado tem custo alto e revela o limite da sobrevivência humana.
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