Confirmado: objeto interestelar 3I/ATLAS tem uma rara “anticauda”

Conforme noticiado pelo Olhar Digital, um estudo apresentado em agosto sugeria que o cometa 3I/ATLAS teria formado uma “anticauda”. Novas observações, relatadas em um artigo disponível em pré-impressão no servidor arXiv, confirmam essa suspeita sobre o objeto interestelar.

Descoberto em julho pelo Sistema de Alerta de Impacto Terrestre de Asteroides (ATLAS), financiado pela NASA, este é o terceiro e mais rápido visitante de outras estrelas a cruzar o Sistema Solar, depois do asteroide 1I/‘Oumuamua, em 2017, e o cometa 2I/Borisov, em 2019.

Imagem do cometa 3I/ATLAS próximo de Marte captada pelo satélite ExoMars, da ESA. Crédito: ESA/TGO/CaSSIS

Em resumo:

O cometa 3I/ATLAS formou uma rara e intrigante anticauda, que acaba de ser confirmada;

Descoberto em julho, ele é o terceiro visitante interestelar do Sistema Solar;

Telescópios no Havaí confirmaram a presença da anticauda observada em agosto;

Normalmente, caudas apontam para longe do Sol, mas perspectiva engana;

Partículas maiores seguem a órbita do cometa, formando cauda invertida aparente;

Composição da coma do 3I/ATLAS mostra níquel concentrado e cianeto disperso misteriosamente.

É raro – mas acontece

Observações recentes feitas por astrônomos usando os telescópios do Observatório WM Keck, que fica no topo do Mauna Kea, a 4.145 metros de altitude, no Havaí, confirmaram a presença de uma “anticauda” no cometa 3I/ATLAS. 

Essa é uma das características incomuns do objeto que ainda intrigam os astrônomos e despertam teorias da conspiração sobre vida alienígena. No entanto, sem querer desapontar, embora seja um fenômeno raro, anticaudas já foram vistas em outros cometas antes.

Cometa C/2023 A3 (Tsuchinshan-ATLAS) registrado em 14 de outubro de 2024, de Cebalat, Tunísia. A imagem mostra que além da cauda, o objeto desenvolveu uma anticauda. Crédito: Makrem Larnaout via Spaceweather.com

Quando um cometa se aproxima do Sol, os materiais congelados em sua superfície sublimam (passam do estado sólido para gasoso). Esse processo libera gases e partículas de poeira que formam a coma, a bolha que circunda o núcleo do cometa (também chamada de “cabeleira”).

Normalmente, a radiação e o vento solar sopram essa nuvem de poeira e gás para longe do Sol, criando a famosa cauda do cometa. Porém, em ocasiões extraordinárias, é possível observar uma “anticauda”, que parece apontar para o lado oposto do esperado, ou seja, em direção à estrela.

Conforme explica a Agência Espacial Europeia (ESA), trata-se de uma ilusão de ótica. A cauda ainda aponta para longe do Sol, mas, devido à perspectiva da Terra, ela parece se estender atrás do cometa de forma invertida. É um efeito visual, não um comportamento físico real contrário à gravidade solar.

Imagem composta do cometa 3I/ATLAS mostrando emissão difusa assimétrica para o noroeste. Abaixo, a mesma imagem contornada, com barra de escala e setas de direção. As setas amarela e verde marcam, respectivamente, o vetor de velocidade heliocêntrica negativa projetada e a direção antissolar projetada. Crédito: David Jewitt et. al.

Acontece que, no caso do 3I/ATLAS, os astrônomos identificaram um tipo de “anticauda” diferente, que pode não ser resultado de perspectiva. Observações feitas a 3,8 unidades astronômicas (UA) do Sol (cerca de 570 milhões de km) mostraram uma coma alongada apontando na direção solar.

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“Anticauda” é mais uma peça no quebra-cabeça do visitante interestelar

Ao IFLScience, Jason Wright, professor de astronomia na Universidade Estadual da Pensilvânia, disse que esse tipo de “anticauda” já foi registrado antes, como no Cometa Kohoutek em 1974. O fenômeno ocorre quando partículas maiores ejetadas do núcleo cometário seguem a órbita do cometa, à frente ou atrás do núcleo, formando correntes de material que podem parecer invertidas.

Michael Busch, bolsista de pós-doutorado em Astronomia e Astrofísica da Fundação Nacional de Ciências os EUA (NSF), explicou na rede social BlueSky que partículas de poeira e gás são empurradas pelo vento solar, mas pedaços maiores se espalham ao longo da órbita, criando a ilusão de uma cauda “de frente”. Esse efeito pode gerar correntes de meteoroides ao redor de toda a trajetória do cometa.

O estudo recente analisou a composição química da coma do 3I/ATLAS e encontrou resultados intrigantes. O níquel (Ni) está mais concentrado próximo ao núcleo, enquanto o cianeto (CN) se espalha mais para dentro da coma. Isso indica que o cometa tem processos internos ainda não totalmente compreendidos.

Os cientistas continuarão observando o 3I/ATLAS à medida que ele se afasta e se aproxima do outro lado do Sol, pela perspectiva da Terra. Cada novo dado ajuda a entender melhor a física de objetos interestelares e revela surpresas que desafiam as expectativas.

Agora, o fenômeno da “anticauda” é mais uma peça do quebra-cabeça do cometa 3I/ATLAS. Analisar esse comportamento raro permitirá aos cientistas entender melhor a variedade e a dinâmica dos objetos que invadem o Sistema Solar.

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