Entenda o que falta para a Starship, da SpaceX, chegar à Lua e ir além

Voltar à Lua é uma das obsessões do homem quando se trata da exploração espacial atual. A maior chance de retornar ao satélite natural da Terra é com a maior nave espacial já construída, a Starship, da SpaceX, mas até a nave chegar aos seus ambiciosos objetivos, há um longo caminho.

A SpaceX afirmou que pretende iniciar a colonização lunar a partir de 2030. Contudo, ainda há ajustes a serem feitos e pelo menos mais duas novas versões do foguete serão construídas do zero para atingir o objeto lunar e chegar a Marte.

“A nave já conquistou vários avanços na manobrabilidade e no controle do pouso vertical. A Starship resistiu bem às reentradas, ao atrito com o ar e o aquecimento, então o escudo térmico, a capacidade de dissipar calor e resistir à vibração parecem ter sido muito bem testadas. O próximo passo, obviamente, se conseguimos colocar aquela coisa toda em órbita é levar os seres humanos para viagens completas e neste caso, todos os desafios de uma viagem mais longa, especialmente quando pensamos no combustível”, explica Fábio Raia, professor da Escola de Engenharia (EE) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).

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Na última segunda-feira (13/10), a SpaceX lançou o 11º voo de teste de seu megafoguete de 124 metros de altura. O voo foi o segundo totalmente exitoso da nave e também foi marcante por ser a decolagem final da “Versão 2” do veículo.

“O foco agora se volta para a próxima geração de Starship e Super Heavy, com vários veículos atualmente em construção ativa e se preparando para testes”, escreveu a SpaceX em uma postagem de resumo do voo.

“Os próximos testes serão para os primeiros voos orbitais da Starship, missões operacionais de carga útil, transferência de propelente e muito mais, à medida que evoluímos para um veículo totalmente e rapidamente reutilizável com serviço para a órbita da Terra, a Lua, Marte e além”, acrescentou a empresa.

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Rastro de fogo deixado pela nave após sua decolagem

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Chamas da turbina da Nave Starship

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Decolagem do 11ºx voo da Nave Starship da Space X

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Aumento de voos de empresas privadas, como a SpaceX, fez o risco de acidentes crescer, dizem pesquisadores

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10º lançamento

Reprodução/SpaceX

O que ainda falta?

A Versão 3 será ainda maior, p+elo menos 1,5 metro mais alta que a anterior, mas terá uma série de diferenças, especialmente nos motores e abastecimento. A V3 deve ficar pronta apenas em 2027 e não será a nave definitiva a tentar a missão lunar, mas deve começar a fazer voos para fora da órbita terrestre, algo que a SpaceX ainda não tentou.

A Starship ainda precisa validar o funcionamento completo de seus motores Raptor em reentradas múltiplas e longas viagens espaciais, além de demonstrar que pode decolar, pousar e reabastecer em órbita de forma autônoma, exigências do contrato com a Nasa para o programa Artemis de colonização lunar.

Os testes são fundamentais antes que a nave possa transportar astronautas à Lua. Só depois de dominar essas etapas técnicas e garantir a segurança e estabilidade em missões tripuladas, a SpaceX poderá usar a Starship também para viagens interplanetárias.

Um novo motor

Os motores da V3 terão maior potência e capacidade de abastecimento em órbita — uma paradinha no posto que é essencial para um segundo disparo em direção a viagens mais longas. A Super Heavy, estrutura que faz a propulsão inicial da nave, tem 33 Raptors e a Starship tem seis.

“Os novos propulsores também terão um estágio quente integrado, muito mais área de ventilação e serão projetados para serem totalmente reutilizáveis”, disse o porta-voz da SpaceX, Dan Huot, durante o webcast de lançamento do Voo 11.

Os motores Raptor são a nova geração de propulsão da SpaceX, desenvolvidos para o sistema Starship e voltados à exploração espacial. Eles utilizam o ciclo de combustão escalonado de fluxo total (FFSC) e queimam metano líquido e oxigênio líquido, o que aumenta a eficiência, a potência e a capacidade de reutilização.

O desafio do reabastecimento

A escolha do metano é estratégica, pois queima de forma mais limpa que o querosene, reduz o desgaste e pode ser produzido em Marte pelo processo Sabatier, usando dióxido de carbono da atmosfera e gelo de água local.

O efeito permitiria reabastecer a nave para a viagem de volta. O sistema opera em temperaturas criogênicas, o que aumenta a complexidade, mas também o desempenho do motor enquanto unidade de potência.

Para a física Ana Freire Ribeiro, de Campinas (SP), o maior desafio da nave de Elon Musk é justamente mostrar a capacidade de reabastecimento na órbita. “É fundamental que as naves recebam uma dose extra de combustível quando forem a viagens mais longas. Quando pensamos no programa Apollo, a administração do combustível foi uma das maiores dificuldades para a Nasa levar uma nave até a Lua. Carregar combustível o bastante para ir a Marte e voltar é praticamente impossível e extremamente arriscado”, afirma.

A reutilização para diminuir os custos literalmente astronômicos das missões tem sido um diferencial da SpaceX. No voo mais recente, quase metade da estrutura total da nave era reaproveitável. O foguete Super Heavy, responsável pela propulsão inicial, também foi reutilizado do oitavo voo da série e pousou no Golfo do México cerca de dez minutos após o lançamento, mostrando ainda ter capacidade de uso.

Atualmente, a Nasa chama o retorno à Lua de programa Artemis. A viagem mais recente ao satélite ocorreu com a missão Apollo 17, em dezembro de 1972. Os astronautas Eugene Cernan e Harrison Schmitt foram os últimos humanos a pisar no satélite lunar.

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