Mais de 55 anos se passaram desde que o homem pisou na Lua pela primeira vez. Entre 1969 e 1972, 12 astronautas norte-americanos exploraram a superfície lunar, e desde então nenhum ser humano voltou ao satélite.
Nas últimas décadas, porém, a chamada “Nova Corrida Espacial”, protagonizada por Estados Unidos e China, reacendeu a disputa para levar novamente astronautas à Lua e consolidar presença permanente no território.
A professora Regiane Bressan, do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), afirma que o satélite é visto hoje como uma plataforma de recursos e poder.
“A Lua não é apenas um corpo celeste, mas uma fonte de recursos essenciais para a próxima fase da exploração espacial e para o avanço tecnológico na Terra. O domínio do espaço e a capacidade de permanecer na Lua simbolizam liderança e prestígio, legitimando uma nação como potência global em ciência e engenharia”, explica.
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O pesquisador Antonio Fernando Bertachini de Almeida Prado, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), reforça que o interesse também é econômico. Ele destaca que o satélite possui materiais valiosos, como o hélio-3, potencialmente útil para a fusão nuclear, e outros minerais escassos na Terra.
“O controle desses recursos pode gerar vantagens econômicas significativas. Além disso, a corrida espacial impulsiona inovações em comunicações e sistemas de propulsão”, afirma.
Segundo ele, a Lua também funciona como um laboratório natural para estudar a formação do sistema solar e da própria Terra, além de servir como base para futuras missões a Marte. Como sua gravidade é menor que a da Terra, o lançamento de veículos espaciais a partir dela é muito mais viável.
O aspecto geopolítico, também é fundamental. “O sucesso nas missões lunares aumenta o prestígio de um país e pode influenciar alianças políticas e econômicas”, destaca o especialista.
Diferenças entre Artemis e Chang’e
Atualmente, Estados Unidos e China conduzem programas espaciais distintos, com objetivos e estratégias próprias. O programa Artemis, liderado pela Nasa, busca o retorno de astronautas à superfície lunar, com o envio da primeira mulher e a primeira pessoa negra.
O plano também pretende estabelecer uma presença sustentável no polo sul do satélite, preparando o caminho para futuras missões a Marte.
De acordo com a Agência Espacial Brasileira (AEB), o Artemis se baseia na cooperação internacional, por meio dos Acordos Artemis, que envolvem dezenas de países, entre eles o Brasil.
Já o programa chinês Chang’e avança de forma mais independente e tem se destacado por conquistas científicas, como o pouso no lado oculto da Lua e o retorno de amostras lunares. A China também lidera a criação da Estação Internacional de Pesquisa Lunar (ILRS), prevista para a próxima década, em parceria com outros países asiáticos e a Rússia.
O papel do Brasil na nova corrida lunar
O Brasil, que integra os Acordos Artemis, vem ampliando sua inserção no cenário espacial por meio de parcerias científicas e industriais. Segundo a AEB, essa adesão abre oportunidades concretas de cooperação tecnológica e científica, reforçando o papel do país na exploração lunar sustentável.
Antonio Prado acredita que o Brasil tem muito a contribuir. “O país pode atuar com sua experiência em áreas como climatologia, geologia e recursos naturais. Também pode fortalecer sua indústria de satélites e investir em programas de educação e capacitação em ciências espaciais”, afirma.
Para ele, o envolvimento em missões internacionais também estimula a formação de profissionais e o intercâmbio de conhecimento com universidades e centros de pesquisa no exterior.
A Agência Espacial Brasileira destaca ainda que o país mantém cooperação ativa com outras potências espaciais, como a China, em projetos voltados à ciência lunar e ao desenvolvimento de tecnologias conjuntas. Essa diplomacia espacial, segundo a AEB, reafirma o compromisso do país com o uso pacífico do espaço e com o desenvolvimento sustentável.
Por que investir na exploração lunar?
O retorno à Lua não representa apenas prestígio ou disputa de poder. Para o astrônomo Hélio Jaques Rocha-Pinto, presidente da Sociedade Astronômica Brasileira e professor do Observatório do Valongo (UFRJ), as missões espaciais são motores de inovação.
“O desenvolvimento de soluções tecnológicas não ocorre ao acaso. Ele é impulsionado por demandas científicas que exigem equipamentos e materiais com propriedades excepcionais”, afirma.
Segundo ele, mais do que uma oportunidade de negócios, é o avanço científico que sustenta o progresso. “É o desenvolvimento da tecnologia que nos permite chegar à Lua que nos oferece um futuro mais sustentável”, conclui.
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