Bloquear parte do Sol pode trazer efeitos climáticos sérios

Para atenuar as mudanças climáticas, existe a proposta de liberar partículas de enxofre na atmosfera a fim de reduzir a quantidade de luz solar que chega ao solo. Em tese, isso resfriaria o planeta, diminuindo os efeitos do aquecimento global temporariamente. Porém, um estudo publicado na última terça-feira (21) na revista Scientific Reports alerta que essa técnica pode causar impactos severos no clima.

Propostas como essa fazem parte da geoengenharia, campo que busca usar intervenções humanas planejadas para modificar os sistemas do planeta. Em geral, essas ideias se inspiram em fenômenos naturais que já influenciam o clima do globo.

Como exemplo, a erupção do Monte Pinatubo em 1991, nas Filipinas, liberou mais de 20 milhões de toneladas de dióxido de enxofre na estratosfera — região entre 12 e 50 km acima da superfície. Esse evento diminuiu a temperatura global em 0,5 graus Celsius, segundo registro do Serviço Geológico dos EUA.

Em 1991, a erupção do Pinatubo, nas Filipinas, resfriou o clima global. (Imagem: ESA)

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Dois anos depois, esse ocorrido perturbou o sistema de monções, que leva chuvas à Índia e ao sul da Ásia. Segundo o novo estudo, além desse descontrole climático, o enxofre esquentou a estratosfera, o que acelerou a destruição da camada de ozônio.

“Há uma série de coisas que podem acontecer se você tentar fazer isso — e estamos argumentando que a gama de resultados possíveis é muito mais ampla do que qualquer um avaliou até agora”, disse Faye McNeill, uma das autoras do estudo e cientista de aerossóis da Escola de Clima e Engenharia de Columbia, em um comunicado.

Partículas podem ter efeitos globais desastrosos

Na inédita pesquisa, o grupo alerta que os efeitos surpresa da geoengenharia no mundo real são inevitáveis. Segundo o estudo, os modelos de computador utilizados para esses planos não levam em consideração a complexidade da natureza, trazendo incertezas notáveis nas previsões.

Se as partículas se acumularem ao redor do Equador, podem perturbar o padrão global de circulação atmosférica, o que alteraria a distribuição de calor pela Terra. Caso se ajunte nos polos, esse material pode desequilibrar o sistema de monções tropicais, segundo os cientistas.

Conforme essas partículas caíssem, elas reagiriam com a água nas nuvens, formando chuvas ácidas. Esse fenômeno destrói o solo e é danoso aos seres humanos.

Liberar aerossóis na estratosfera poderia resfriar o planeta a curto prazo. No entanto, o clima global seria afetado no decorrer dos anos. (Imagem: Hughhunt / Wikimedia Commons)

“Cientistas têm discutido o uso de candidatos a aerossóis, sem muita consideração por como as limitações práticas podem limitar a capacidade de injetar grandes quantidades deles anualmente”, comentou Miranda Hack, líder do estudo e cientista de aerossóis da Universidade Columbia.

A equipe também destacou que parte dos materiais alternativos propostos é escassa. Diamante, zircônia cúbica e titânica rutílica, possíveis substitutos do enxofre, são raros na natureza e caros de se produzir.

Outras possibilidades, como carbonato de cálcio e alfa-alumínio são abundantes, mas se dispersam com mais dificuldade. Segundo os pesquisadores, não seriam tão eficazes quanto o enxofre. Com isso, o estudo reforça que ainda não existe uma solução segura ou viável para modificar artificialmente o clima.

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