Um novo dispositivo desenvolvido por pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) pode transformar o diagnóstico e acompanhamento do câncer de boca. Trata-se de um protótipo de biossensor portátil, capaz de identificar sinais de metástase a partir da saliva, eliminando a necessidade de procedimentos invasivos e tornando o tratamento mais preciso. As informações são da Agência FAPESP.
Como o biossensor detecta o câncer
O aparelho funciona identificando três proteínas específicas associadas ao câncer: LTA4H, CSTB e COL6A1. Esses biomarcadores já podem ser detectados quando a doença começa a se espalhar para os gânglios do pescoço, fase em que o quadro clínico se agrava.
Exame portátil analisa biomarcadores na saliva para identificar disseminação do câncer de boca com precisão (Imagem: Fusionstudio/Shutterstock)
O processo utiliza espectroscopia de impedância eletroquímica, que permite monitorar o comportamento das proteínas quando entram em contato com a área ativa do sensor, composta por ZIF-8 e anticorpos específicos. O ZIF-8 é um material poroso capaz de imobilizar anticorpos, enquanto estes atuam capturando as proteínas de forma precisa, como um modelo chave-fechadura.
Segundo a pesquisadora Adriana Franco Paes Leme, do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) do CNPEM, os biomarcadores foram identificados a partir do mapeamento de proteínas no tecido tumoral e posteriormente analisados na saliva pelo protótipo.
Entre os destaques da tecnologia estão:
Detecção não invasiva de sinais de metástase;
Redução da necessidade de cirurgias exploratórias, como a dissecção cervical;
Custos reduzidos, facilitando uso no SUS;
Interpretação dos dados com inteligência artificial, alcançando até 76% de acerto na identificação de metástase;
Possibilidade de uso em consultórios, hospitais e programas de rastreamento.
Nova tecnologia possibilita uso em consultórios, hospitais e programas de rastreamento (Créditos: Tunatura / iStock)
Potencial para o Sistema Único de Saúde
O objetivo dos pesquisadores é disponibilizar o biossensor no SUS, oferecendo um exame rápido, econômico e sem desconforto para o paciente. A detecção precoce de metástases permite que médicos definam tratamentos mais adequados, melhorando a qualidade de vida e reduzindo riscos.
Atualmente, procedimentos cirúrgicos exploratórios são comuns no tratamento do câncer de boca, mas muitas vezes não detectam metástases. De acordo com a pesquisadora Luciana Trino Albano, responsável pelo estudo durante seu pós-doutorado, cerca de 70% desses casos poderiam evitar a cirurgia com o uso do biossensor.
O objetivo dos pesquisadores é disponibilizar o biossensor no SUS (Imagem: Divulgação/ EBC)
O projeto também inclui o uso de algoritmos de machine learning para analisar os perfis salivares das proteínas, destacando o biomarcador LTA4H como o mais eficaz para diferenciar pacientes com e sem disseminação tumoral. A expectativa é que, em até três anos, o exame esteja disponível em formato de kit portátil, ampliando o acesso e a prevenção do câncer de boca, que afeta principalmente homens e está ligado a fatores como tabagismo, consumo de álcool e infecção por HPV.
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