A ida ao dentista costuma ser associada apenas ao cuidado com os dentes, mas, segundo especialistas, ela pode revelar muito mais sobre a saúde do corpo inteiro. Inflamações na gengiva, alterações na língua ou mau hálito persistente, por exemplo, são sinais que vão além da estética e podem indicar doenças sistêmicas, como diabetes, anemia e até problemas cardíacos.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 3,5 bilhões de pessoas no mundo são afetadas por doenças bucais, sendo a cárie o problema mais comum. No Brasil, o cenário é preocupante: o IBGE aponta que 34 milhões de adultos já perderam 13 dentes ou mais, e 14 milhões perderam todos os dentes, uma consequência direta da falta de cuidado e da ausência de acompanhamento odontológico regular.
Quando a boca dá o primeiro alerta
A dentista Maria de Lourdes Soares, do AmorSaúde, explica que a boca é uma das principais portas de entrada para o organismo. “Ela abriga milhares de microrganismos que vivem em equilíbrio. Mas quando há inflamações ou infecções, essas bactérias podem se espalhar pela corrente sanguínea e afetar outras partes do corpo”, diz.
Entre os problemas mais comuns que se manifestam primeiro na cavidade oral estão:
Diabetes: inflamações gengivais frequentes e cicatrização lenta após procedimentos são sinais de alerta. A glicose alta prejudica a imunidade e favorece a proliferação de bactérias.
Doenças cardíacas: sangramentos gengivais recorrentes e infecções podem estar ligados a alterações cardiovasculares. Bactérias orais também podem agravar casos de endocardite.
Anemia: a língua lisa e dolorida, acompanhada de mucosas pálidas e aftas repetidas, é um indicativo da falta de ferro no organismo.
Doenças autoimunes: lúpus e síndrome de Sjögren podem causar feridas persistentes e inflamações na mucosa.
Deficiências nutricionais e distúrbios digestivos: mau hálito, erosão do esmalte e alterações na língua podem sinalizar refluxo, gastrite ou falta de vitaminas B12, ferro e zinco.
O check-up odontológico pode salvar mais do que o sorriso
Maria de Lourdes reforça que o dentista tem papel essencial na detecção precoce de doenças sistêmicas. “Lesões bucais, inflamações e sangramentos podem indicar problemas em outras partes do corpo. O dentista identifica esses sinais e encaminha o paciente para uma avaliação médica completa”, afirma.
Ela alerta que doenças bucais não tratadas podem agravar condições já existentes. “Durante atividades simples, como escovar os dentes ou mastigar, bactérias podem entrar na corrente sanguínea. Em pessoas com alterações cardíacas, isso pode causar endocardite bacteriana. Já em diabéticos, as infecções bucais dificultam o controle da glicemia”, explica.
O dentista pode descobrir problemas sérios de saúde. Foto: FreePik
Apesar da importância, muita gente ainda procura o dentista apenas quando sente dor. “Prevenir é melhor do que remediar. Consultas regulares permitem diagnosticar cáries, inflamações gengivais e até lesões suspeitas, como o câncer de boca, evitando complicações e mantendo o equilíbrio da saúde bucal”, orienta a profissional.
Hábitos que comprometem a saúde da boca – e do corpo
A saúde bucal está diretamente ligada ao estilo de vida. Alguns hábitos cotidianos prejudicam o equilíbrio da microbiota oral e podem causar danos duradouros.
Açúcar em excesso: refrigerantes, doces e ultraprocessados alimentam bactérias que corroem o esmalte e causam cáries.
Tabagismo: o cigarro reduz a oxigenação dos tecidos, mancha os dentes e aumenta o risco de câncer bucal.
Falta de sono: dormir pouco enfraquece o sistema imunológico e pode causar gengivite e bruxismo.
Estresse e ansiedade: o aumento do cortisol altera o pH da boca e reduz a produção de saliva, abrindo caminho para aftas e mau hálito.
Consumo excessivo de álcool: o álcool irrita a mucosa oral e resseca os tecidos, favorecendo lesões e infecções.
Prevenir é o melhor tratamento
A dentista destaca que a saúde bucal é parte do cuidado integral do paciente. “O dentista trabalha em conjunto com médicos para controlar fatores de risco, adaptar condutas e ajustar tratamentos em pacientes cardíacos, diabéticos ou gestantes. Esse diálogo é essencial”, diz.
Nos idosos, a saúde da boca também influencia a alimentação, a fala e até o bem-estar emocional. “Próteses mal adaptadas e infecções comprometem a qualidade de vida e a nutrição”, acrescenta.
A recomendação da especialista é simples: “Escovar os dentes após as refeições, usar fio dental, controlar o consumo de açúcar e manter consultas regulares fazem toda a diferença. Quem cuida da boca está cuidando de todo o corpo”, conclui Maria de Lourdes.
Resumo:
A boca pode revelar muito sobre a saúde geral do organismo. De acordo com a dentista Maria de Lourdes Soares, sinais como sangramento, feridas e mau hálito persistente podem indicar doenças como diabetes, anemia e problemas cardíacos. O acompanhamento odontológico regular é essencial para prevenir complicações e garantir o bem-estar integral.
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