Uma investigação recente aponta que milhões de toneladas de eletrônicos descartados nos Estados Unidos estão chegando a países do Sudeste Asiático e do Oriente Médio a cada mês, gerando um “tsunami oculto” de lixo eletrônico. O alerta é de um grupo ambientalista sediado em Seattle, o Basel Action Network (BAN).
O relatório do BAN, baseado em dois anos de apuração, identificou ao menos dez empresas norte-americanas que exportam equipamentos usados para países como Vietnã, Malásia, Indonésia, Tailândia, Filipinas e Emirados Árabes Unidos. Entre os resíduos estão celulares, computadores e outros eletrônicos com metais tóxicos integrados, como chumbo, cádmio e mercúrio. As informações são do portal Engadget.
Toneladas e toneladas de lixo
Segundo a investigação, cerca de 2.000 contêineres de lixo eletrônico partem dos EUA todo mês, totalizando aproximadamente 33 mil toneladas métricas.
As empresas envolvidas, chamadas de “brokers de e-waste”, não reciclam os materiais; elas simplesmente os enviam para terceiros que se encarregam do descarte. Entre elas estão Corporate eWaste Solutions, Semsotai, First America Metal Corp. e PPM Recycling.
Entre os resíduos há celulares, computadores e metais tóxicos como chumbo e mercúrio (Imagem: Pradeep Gaur/iStock)
O relatório também aponta que as exportações dessas dez companhias somaram mais de US$ 1 bilhão entre janeiro de 2023 e fevereiro de 2025. A movimentação mensal do setor pode ultrapassar US$ 200 milhões. Jim Puckett, diretor do BAN, afirma que a Malásia, em especial, se tornou um verdadeiro “santuário de lixo eletrônico” nos últimos anos.
Algumas empresas contestaram os dados. A Semsotai declarou que não exporta sucata, atuando apenas com componentes reutilizáveis, e acusou o BAN de parcialidade. A PPM Recycling afirmou que os volumes de envio foram exagerados. A maioria das outras companhias preferiu não se manifestar.
Um problema de proporções globais
O crescimento da quantidade de lixo eletrônico no mundo supera em cinco vezes a capacidade dos programas de reciclagem. Em 2022, foram produzidas 62 milhões de toneladas de resíduos eletrônicos, número que deve chegar a 82 milhões até 2030, segundo a União Internacional de Telecomunicações (UIT) e o UNITAR, braço de pesquisa da ONU.
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Importante destacar que a maioria dos países proibiu a importação desses resíduos por meio da Convenção de Basileia, tratado internacional que regula o comércio de resíduos perigosos. Os Estados Unidos, no entanto, são a única nação industrializada que não ratificou o acordo, ficando fora das regras e permitindo o envio de lixo eletrônico sem restrições legais.
Dez empresas movimentam mais de US$ 1 bilhão exportando e-waste, sem reciclagem adequada. (Imagem: Huseyin Asliyuce/iStock)
Especialistas alertam para os impactos ambientais e de saúde pública. A presença de metais pesados em eletrônicos descartados pode contaminar solos, águas e alimentos, afetando comunidades inteiras. Países receptores enfrentam desafios para tratar e reciclar o material de forma segura.
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