O clima no mundo tem se alterado rapidamente: períodos de seca mais longos, chuvas mais irregulares e calor mais intenso são cada vez mais óbvios. Na maioria das vezes causadas por ações humanas, as mudanças climáticas são responsáveis por aumentar o aquecimento global e o risco de eventos climáticos extremos, além de prejudicar a biodiversidade.
Apesar de as informações sobre a situação complicada em que estamos serem muito divulgadas e ser fácil perceber as mudanças no dia a dia, parece uma missão quase impossível resolver o problema. Parar o processo e voltar o relógio é algo que depende de muitas variáveis.
Leia também
Mosquitos são encontrados pela 1ª vez em cidade de clima congelante
Tema da COP30: o que são mudanças climáticas e seus efeitos no planeta
Rumo à COP 30: Educa Talks promove debate sobre cidadania climática
Marina Silva defende reforma “urgente” no financiamento climático
De acordo com o ambientalista Alexandre Prado, ainda está muito enraizado na sociedade que os recursos naturais são infinitos. “Mesmo nas modelagens econômicas mais conservadoras, ainda há quem considere que não há limite para o uso da natureza. Esse conceito vem sendo questionado há décadas”, diz o líder em mudanças climáticas da ONG WWF-Brasil.
Mesmo com tantas evidências científicas, as medidas para melhorar o clima esbarram em outro fator essencial: os tomadores de decisão. Muitas vezes, o jogo de interesses atrapalha a criação e implementação de políticas públicas que visam salvar o nosso futuro climático.
“Existem diversos setores econômicos poderosos que se beneficiam dessa lógica de exploração infinita dos recursos naturais. O caso mais evidente é o do petróleo e gás, mas há muitos outros. São setores muito robustos, tanto no Brasil quanto em outros países, e que resistem fortemente a qualquer mudança que ameace seus interesses”, revela Prado.
Para a pesquisadora Marina Hirota, do Instituto Serrapilheira, é preciso tirar as propostas do papel e transformá-las em ações concretas.
“Políticas precisam ser implementadas e monitoradas, e as pessoas precisam ter acesso a informações claras e tangíveis para agir. O que freia a mudança é justamente o fato de muitas coisas permanecerem no papel, enquanto a realidade exige ação prática e imediata”, diz a especialista que faz parte do conselho científico de assessoria à presidência da COP30.
Marina também enxerga que a sociedade civil poderia ter um papel mais importante no processo, porém a falta de conhecimento científico acessível impede o sentimento de urgência nas pessoas. “Uma coisa é saber que a temperatura média global não pode subir mais que 1,5 °C. Outra é compreender o que se pode fazer concretamente na vida cotidiana para contribuir com isso”, diz.
Importância da COP30 para mudar o clima
Diante de alterações climáticas cada vez maiores, a COP30 se torna ainda mais importante. Reunindo governos do mundo todo, o evento avaliará o andamento das metas pelo clima já firmadas e irá propor novos compromissos.
COP30 será em Belém, no Pará
Entre os temas prioritários das reuniões, está o entendimento dos riscos no aumento da temperatura global dentro do limite de 1,5 °C. De acordo com o sistema de observação europeu Copernicus, o aquecimento médio do planeta já está em cerca de 1,3 °C. Estimativas revelam que logo o limite será alcançado.
“Cruzar esse limite pode trazer respostas extremas do sistema terrestre — mudanças bruscas e irreversíveis em ecossistemas, eventos climáticos mais severos e impactos sociais profundos”, revela Marina.
Outros assuntos relevantes a ser debatidos durante o encontro devem ser o financiamento climático para aplicação de medidas, justiça climática, especialmente em relação a perdas e danos causados pelo clima, e adaptação com o que já foi alterado.
Ainda há como evitar o aquecimento global?
Sim, ainda é possível evitar o aquecimento global. No entanto, o tempo é curto e o cerco está se fechando cada vez mais. Umas das prioridades da COP30 também será tirar as propostas do papel e colocar a “mão na massa”. Para isso, as ações devem ser realizadas em conjunto e coordenadamente, incluindo iniciativas individuais e comunitárias, políticas governamentais e acordos internacionais.
“O tempo é uma variável fundamental e precisamos ser rápidos e efetivos. Ainda dá para evitar os piores cenários climáticos, mas não podemos mais postergar medidas concretas”, avalia a pesquisadora Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília (UnB) e membro da Academia Brasileira de Ciências.
Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!


