As mudanças climáticas vão impactar o abastecimento de água no Brasil mais rápido do que se imaginava. Cidades brasileiras deverão ter, em média, 12 dias de racionamento de água por ano até 2050, com uma redução de 3,4% na disponibilidade de água ao longo do ano. Regiões onde os índices de chuva e o número de dias chuvosos já são mais baixos – como partes do Nordeste e do Centro-Oeste, por exemplo – deverão enfrentar mais de 30 dias de racionamento.
Os dados são do estudo “Demanda Futura por Água em 2050: Desafios da Eficiência e das Mudanças Climáticas”, divulgado nesta terça-feira (28) pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com a consultoria Ex Ante.
A pesquisa considera que a temperatura máxima deverá aumentar aproximadamente 1 °C nas próximas duas décadas em comparação aos níveis observados em 2023, enquanto a temperatura mínima terá um acréscimo estimado de 0,47 °C. Isso resultará em um aumento da amplitude térmica de 0,52 °C até 2050.
Consumo em alta
A demanda futura até 2050 deverá crescer 59,3% em função do crescimento populacional, elevação das temperaturas e avanços econômicos, incluindo salários mais altos;
A pesquisa também considera que a universalização dos serviços de abastecimento de água em todo o país será alcançada em 2033;
De acordo com os modelos estatísticos do estudo, quanto maior o grau de urbanização de uma cidade, maior o consumo diário per capita de água. A cada aumento de um ponto percentual na população urbana do município, espera-se um crescimento de 0,96% no consumo de água;
Além disso, para cada grau Celsius adicional, a demanda por água cresce 24,9%;
A umidade relativa do ar interfere no consumo per capita de água: quanto maior a umidade relativa do ambiente, maior o consumo;
Na média das cidades brasileiras, a cada aumento de um ponto percentual na umidade relativa do ar, o consumo per capita de água cresce 3,6%.
O número de dias de precipitação também impacta a oferta per capita de água: cidades com chuvas mais frequentes estão associadas a níveis de oferta mais elevados. Em média, nas cidades brasileiras, a cada dia adicional de chuva na média mensal, o consumo per capita de água aumenta em 17,4%.
Assim, municípios em áreas tropicais, com temperaturas elevadas ou localizados próximos ao litoral, apresentam maior oferta em relação a cidades situadas no semiárido brasileiro. Estas regiões, embora também registrem temperaturas elevadas, têm pouca precipitação, o que ocasiona restrições na oferta de água nas áreas de cerrado e caatinga.
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Reduzindo perdas de água
O estudo também alerta para as perdas no sistema de distribuição: 40,3% da água tratada se perde em vazamentos, ligações clandestinas ou falhas operacionais, o que representa sete bilhões de metros cúbicos perdidos por ano.
Esse volume extra seria suficiente para cobrir a demanda prevista para as próximas duas décadas. O Plano Nacional de Saneamento prevê a redução de perdas para 25%, o que pode diminuir a pressão sobre rios, aquíferos e reservatórios.
“Os dados trazem a urgência de adotarmos medidas imediatas e efetivas para reduzir as perdas no sistema de distribuição de água e planejarmos de forma sustentável a gestão e uso dos nossos recursos hídricos”, disse Luana Pretto, presidente executiva do Instituto Trata Brasil. “É fundamental agir agora para promover eficiência e preparar o país para enfrentar os desafios que as mudanças climáticas trarão nos próximos anos.”
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