IA desvenda mistério de 25 anos sobre o intestino e a doença de Crohn

Pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego (UC San Diego), nos EUA, usaram inteligência artificial (IA) para resolver uma dúvida científica que persistia há mais de duas décadas sobre a doença de Crohn, uma condição inflamatória crônica que afeta o intestino.

O estudo, publicado no Journal of Clinical Investigation, revelou o papel fundamental do gene NOD2 no equilíbrio entre os dois tipos de células de defesa do corpo, oferecendo novas perspectivas para futuros tratamentos.

Como o intestino mantém o equilíbrio

O intestino humano abriga dois tipos de macrófagos, células especializadas do sistema imunológico que desempenham funções opostas, mas complementares.

Macrófagos inflamatórios: combatem infecções causadas por microrganismos.

Macrófagos não inflamatórios: reparam tecidos danificados e ajudam na regeneração da mucosa intestinal.

Inteligência artificial ajudou a ciência a desvendar um grande mistério sobre o intestino (Imagem: A.Basler/Shutterstock)

Em pessoas com doença de Crohn, há um desequilíbrio entre esses dois grupos, resultando em inflamação crônica, dor e lesões na parede intestinal. A causa dessa desregulação estava associada ao gene NOD2, identificado em 2001, mas seu papel exato ainda era um mistério até agora.

IA revela a ligação entre NOD2 e equilíbrio intestinal

Usando aprendizado de máquina, os cientistas analisaram milhares de padrões de expressão genética em amostras do intestino grosso de pacientes com doença inflamatória intestinal e de pessoas saudáveis. O modelo identificou uma assinatura composta por 53 genes que distingue com precisão os macrófagos inflamatórios dos regenerativos.

Entre esses genes, um chamou a atenção: o que produz a proteína girdin. A equipe descobriu que, nos macrófagos não inflamatórios, o NOD2 se conecta à girdin, suprimindo inflamações excessivas e permitindo a reparação do tecido intestinal.

Os cientistas usaram a IA para analisar milhares de amostras do intestino grosso de pacientes com doença inflamatória intestinal e de pessoas saudáveis (Crédito: Skorzewiak / Shutterstock)

No entanto, mutações comuns no gene NOD2 (frequentemente associadas à doença de Crohn) removem a parte responsável por essa ligação, provocando o colapso do equilíbrio intestinal e inflamações persistentes.

Os experimentos em camundongos confirmaram o impacto da descoberta: animais sem a proteína girdin apresentaram desequilíbrio da microbiota intestinal, inflamação do intestino delgado e, em casos graves, sepse – uma resposta exagerada do sistema imunológico que pode levar à falência de órgãos.

Avanço científico no estudo do intestino

Segundo o pesquisador Pradipta Ghosh, da UC San Diego, o NOD2 funciona como um “sistema de vigilância” do intestino, detectando microrganismos invasores e mantendo a imunidade em equilíbrio. Quando a conexão com a girdin é perdida, o sistema falha e a inflamação se torna descontrolada.

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A combinação de IA, biologia molecular e modelos animais permitiu resolver um dos debates mais antigos sobre o intestino e a doença de Crohn, além de abrir caminho para terapias que busquem restaurar a interação entre NOD2 e girdin, protegendo o sistema digestivo contra inflamações severas.

A combinação de IA, biologia molecular e modelos animais permitiu resolver um dos debates mais antigos sobre o intestino e a doença de Crohn (Imagem: Lightspring / Shutterstock)

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