O bico é uma das estruturas mais importantes do corpo das aves. Mais do que um instrumento para se alimentar, ele ajuda a entender o comportamento, a dieta e o ambiente em que cada espécie vive.
Cada formato cumpre uma função específica e foi moldado pela evolução para garantir que as aves consigam obter alimento de forma eficiente. Por isso, observar o tipo de bico é uma maneira prática de identificar hábitos e até o papel ecológico de cada espécie.
Leia também
Blitz de rotina flagra dupla com mais de 140 aves silvestres no DF
Mais de 800 espécies de aves são catalogadas em São Paulo. Entenda
Visão afiada: por que pássaros enxergam cores que humanos não veem?
Aves “para fins de estimação”: criador tem 19 pássaros apreendidos
Tipos de bicos e suas funções
O formato do bico é um dos principais indícios do que uma ave come. Espécies granívoras, que se alimentam de sementes e grãos, costumam ter bicos curtos e firmes, capazes de exercer força suficiente para quebrar cascas duras.
Já as insetívoras apresentam bicos finos e alongados, que funcionam como pinças para capturar insetos pequenos. Entre as aves nectarívoras, como os beija-flores, o bico é estreito e comprido, feito sob medida para alcançar o néctar escondido nas flores.
No outro extremo, espécies carnívoras, como falcões e gaviões, contam com bicos curvados e pontiagudos, projetados para rasgar carne. Aves aquáticas, como patos e marrecos, possuem bicos achatados com lamelas nas bordas, que atuam como filtros enquanto se alimentam na água.
O zootecnista Fernando Henrique Petroni, membro da Comissão Nacional de Animais Selvagens do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), explica que essas variações anatômicas permitem que diferentes espécies explorem recursos distintos, diminuindo a competição por alimento, por exemplo.
“O bico funciona como uma ferramenta de precisão. Cada formato foi aprimorado para tornar a alimentação mais eficiente e adequada ao tipo de ambiente em que a ave vive”, detalha Fernando.
Além do papel na alimentação, o bico é uma ferramenta de múltiplas funções. Ele serve para se defender, limpar as penas, construir ninhos, carregar materiais e até demonstrar afeto entre os pares. Em espécies como o tucano, ajuda ainda a regular a temperatura corporal, funcionando como um radiador natural.
Adaptação e sobrevivência
A estrutura do bico está diretamente ligada à sobrevivência das aves. Em locais com pouca variedade de alimentos, elas desenvolvem formatos específicos para aproveitar melhor os recursos disponíveis.
O exemplo clássico é o dos tentilhões das Ilhas Galápagos, observados por Charles Darwin. Cada grupo tinha um formato de bico adaptado a um tipo de alimento, como sementes, frutas ou insetos.
“Os bicos sofreram modificações enormes ao longo dos séculos, acompanhando as particularidades de cada espécie e a oferta de alimento no ambiente”, destaca o biólogo Bruno Hang, do Biopark, em Toledo (PR).
Árvore genealógica mostra a evolução dos tentilhões das Ilhas Galápagos. As aves desenvolveram bicos diferentes conforme o alimento disponível
Cuidados com aves domésticas
Em ambientes domésticos ou de cativeiro, o bico das aves não sofre o mesmo desgaste natural que ocorreria na natureza. Em seu habitat natural, ele é friccionado em sementes duras, cascas, troncos e pedras, o que mantém o tamanho e formato adequados.
Já em casa, a falta desses estímulos pode fazer com que o bico cresça de forma desproporcional, causando dor ao animal. Para evitar esse problema, pessoas que adquirem aves legalmente devem oferecer alimentos e brinquedos que reproduzam o comportamento natural da espécie, como galhos, blocos minerais e rações específicas.
“Quando o desgaste natural não acontece, o bico pode crescer de maneira incorreta e dificultar tarefas básicas, como se alimentar. Em casos mais graves, é preciso fazer o nivelamento com ajuda de um profissional habilitado”, orienta o zootecnista Fernando.
Além disso, o bico é formado por queratina — a mesma proteína presente em unhas e cabelos — e possui uma estrutura óssea interna. Por isso, a alimentação deve ser equilibrada, rica em proteínas e minerais que fortaleçam essa estrutura.
A falta de nutrientes, somada à ausência de estímulos físicos, pode deixar o bico frágil, suscetível a infecções e traumas. Manter esse cuidado é essencial para garantir a saúde e o bem-estar das aves criadas fora do ambiente natural.
Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!






