O carvão ativado costuma ser associado à ideia de “limpar o organismo” e aparece em produtos que prometem desde desintoxicação até a melhora da digestão. No entanto, quando o assunto é consumo de álcool, o composto não tem efeito comprovado.
Fabricado a partir da queima controlada de materiais ricos em carbono, como madeira e casca de coco, o carvão ativado é conhecido pela capacidade de absorção, já que retém substâncias dentro do trato gastrointestinal. Apesar disso, a ação não se estende ao álcool, que é rapidamente absorvido pelo corpo.
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O que é e para que serve o carvão ativado
Na medicina, o carvão ativado é usado em casos específicos de intoxicação, geralmente por medicamentos ou substâncias químicas ingeridas em excesso. Ele atua no intestino, capturando moléculas tóxicas antes que sejam absorvidas, o que reduz a concentração delas no organismo.
A eficácia do método depende de fatores como o tempo desde a ingestão e o tipo de substância envolvida. O álcool não se enquadra nesse perfil, já que é absorvido ainda no estômago e no intestino delgado, etapas que acontecem antes de o carvão ativado exercer qualquer efeito.
Lisa Saud, gastroenterologista e hepatologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, explica que a ação do carvão ativado é limitada e específica.
“O carvão ativado não faz ‘detox’ no sangue nem protege o fígado. Sua ação é apenas intestinal, e mesmo assim limitada a toxinas que ainda não foram absorvidas. Usá-lo para evitar os efeitos do álcool é ineficaz e tem riscos”, afirma.
Por que o carvão ativado não age contra o álcool
O etanol é metabolizado principalmente no fígado, por meio de enzimas. Esse processo é influenciado por características genéticas, sexo, idade, estado de saúde hepática e até pelo consumo frequente de bebidas alcoólicas.
O carvão ativado age apenas no intestino e não impede que o álcool seja absorvido pelo corpo
Como o carvão ativado não interfere nessas etapas e não tem afinidade com as moléculas de etanol, seu uso não altera a quantidade de álcool no sangue. Isso significa que ele não evita a embriaguez, não protege o fígado e também não reduz os sintomas da ressaca.
Riscos do uso de carvão ativado
Além da falta de eficácia contra o álcool, o uso de carvão ativado sem indicação médica apresenta diversos riscos à saúde. Especialistas ouvidos pelo Metrópoles listaram os principais efeitos adversos. Entre eles, destacam-se:
Constipação intestinal e náuseas: o composto pode dificultar o trânsito intestinal e provocar desconforto digestivo.
Redução da absorção de nutrientes e medicamentos: o carvão pode ligar-se a vitaminas, minerais e fármacos, diminuindo sua biodisponibilidade.
Complicações graves em casos extremos: uso inadequado pode causar obstrução intestinal ou aspiração pulmonar.
Diminuição da absorção de vitaminas lipossolúveis e ferro: o uso frequente compromete a disponibilidade desses nutrientes essenciais.
Interferência em medicamentos: anticoncepcionais, antidepressivos e anti-hipertensivos podem ter sua eficácia reduzida.
“Mesmo substâncias naturais podem causar prejuízos se usadas fora do contexto clínico. O carvão ativado pode interferir na absorção de vitaminas e minerais e até comprometer tratamentos com medicamentos de uso contínuo”, destaca o médico nutrólogo Murillo Monteiro, do Instituto Mutare, em São Paulo.
O que realmente ajuda antes de ingerir álcool
Não existe nenhuma substância capaz de impedir que o álcool seja absorvido e metabolizado pelo organismo. Comer antes de beber pode retardar a absorção, fazendo com que a concentração de álcool no sangue seja um pouco mais lenta, mas não evita a embriaguez nem os efeitos tóxicos sobre o fígado e o corpo.
Manter a hidratação durante o consumo também ajuda a reduzir sintomas desconfortáveis, como tontura, dor de cabeça e fadiga, comuns na ressaca. Uma alimentação equilibrada, rica em nutrientes, auxilia o corpo a lidar melhor com o estresse metabólico do álcool.
Organizações internacionais de saúde continuam reforçando que não existe dose segura de álcool para a saúde humana. Ou seja, mesmo medidas preventivas como refeições ou hidratação não tornam a bebida inofensiva.
“O álcool é uma substância tóxica para o organismo. Nenhum alimento ou suplemento prepara o corpo para ingerir álcool sem consequências”, complementa Monteiro.
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