Crise climática avança mais que medidas de combate, afirma relatório

Ao contrário das medidas de combate ao aquecimento global, a crise climática tem avançado cada vez mais rápido. Com o ambiente menos capaz de absorver gases causadores do efeito estufa, o calor global aumenta continuamente. As afirmações são do relatório da The Earth League, consórcio internacional de cientistas especialistas em clima. O documento foi divulgado nessa quarta-feira (29/10).

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Às vésperas da Conferência do Clima da ONU (COP30), o objetivo dos pesquisadores é fornecer informações mais recentes sobre as mudanças climáticas, propondo caminhos de ação mais assertivos durante o encontro. O evento acontecerá em Belém (PA), de 10 a 21 de novembro.

Ao todo, 70 pesquisadores ficaram responsáveis pela coordenação e contato com mais de 150 especialistas do mundo todo. Baseados em estudos científicos, todos os apontamentos foram filtrados e divididos em dez tópicos principais, sendo três frentes prioritárias: evidências do rápido avanço do aquecimento global, impactos já detectados e ações para melhorar a mitigação dos efeitos.

No relatório, especialistas apontam que a alta nas temperaturas registradas em 2023 e 2024 pode estar ligada a um desequilíbrio de energia terrestre, ou seja, entrou mais energia solar na Terra do que saiu, aumentando o aquecimento global.

A principal razão não está ligada somente ao El Niño – fenômeno natural que aquece o Oceano Pacífico e altera o clima global. As nuvens e gelo são os principais “espelhos” para o planeta refletir a luz solar. No entanto, a redução na quantidade e refletividade das nuvens e o recuo do gelo tem provocado a falta de equilíbrio.

Em comunicado, a pesquisadora Mercedes Bustamante, que faz parte da elaboração do relatório, diz que a elevação da temperatura contínua aumenta a ocorrência de eventos extremos, como ondas de calor, secas, incêndios nas florestas, tempestades e inundações, causando mais risco de vida e prejuízo econômicos.

Segundo Mercedes, o avanço do aquecimento deixou ondas de calor oceânicas mais quentes, trazendo prejuízos ao ambiente marinho, incluindo a elevação do nível do mar e perda de massa das geleiras. O fenômeno também prejudica a biodiversidade do mar, além de impactar financeiramente quem depende do ecossistema para viver.

Além do ambiente marinho, o documento demonstra preocupação com outros pontos climáticos envolvendo águas subterrâneas e surtos de doenças causadas pelo calor, além dos riscos provocados por incêndios florestais. Para combater o cenário, a especialista defende que as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) para mitigação dos efeitos climáticos sejam mais ousadas.

“Se totalmente implementada, a última rodada de NDCs reduziria as emissões globais em apenas 5,9% até 2030, bem abaixo dos 42% necessários para limitar o aquecimento a 1,5°C ou dos 28% para mantê-lo abaixo de 2°C. Enquanto isso, os indicadores climáticos seguem sinalizando crescente preocupação”, explica a pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB).

De acordo com a especialista, o relatório ajudará a pautar discussões e metas prioritárias durante a COP30. “É preciso criar indicadores de progresso padronizados, monitorar a transição para além dos combustíveis fósseis, fortalecer a conservação e restauração florestal e proteger a biodiversidade e os sumidouros de carbono”, afirma Mercedes.

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