O aquecimento global tem acelerado o branqueamento dos corais, tornando o fenômeno cada vez mais frequente em diferentes regiões oceânicas. Entre 2023 e 2025, aproximadamente 84% dos recifes mundiais sofreram algum tipo de estresse térmico, comprometendo a saúde e a estabilidade dos ecossistemas.
O Relatório Global de Pontos de Inflexão 2025, divulgado em outubro e assinado por 160 cientistas, destaca a gravidade do cenário. Pela primeira vez, a comunidade científica identificou um “ponto de inflexão climático” causado pelo declínio acelerado dos corais, que se relaciona de forma direta com o aumento das temperaturas dos oceanos.
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Como o calor afeta os corais
O aumento da temperatura do oceano prejudica a relação entre corais e as algas simbióticas, porque mesmo pequenas elevações, de cerca de 1 °C, por períodos prolongados fazem com que as algas produzam substâncias tóxicas. Para se proteger, o coral expulsa essas algas, perdendo sua principal fonte de energia e ficando mais vulnerável.
“Quando essa relação simbiótica se rompe, os corais deixam de receber nutrientes essenciais e passam a consumir suas próprias reservas internas de energia”, explica o professor de biologia Marcello Lasneaux, da Heavenly International School.
Quando as algas são expulsas, o coral perde também o pigmento que dá cor ao seu tecido e fica esbranquiçado. Esse processo, conhecido como branqueamento, é um sinal de que o animal está fragilizado.
Sem as algas, que fornecem até 90% da energia necessária à sobrevivência, o coral pode adoecer e morrer em poucas semanas se as condições do ambiente não melhorarem.
Fatores que aceleram o branqueamento
Além do calor, outros elementos enfraquecem os corais. A acidificação dos oceanos, provocada pela absorção de dióxido de carbono, reduz o pH da água e dificulta a formação dos esqueletos de carbonato de cálcio.
Já a poluição, o excesso de nutrientes vindos de esgoto e o turismo desorganizado alteram o equilíbrio do ambiente marinho e favorecem o crescimento de algas que competem por luz e espaço.
“Mesmo pequenas alterações locais, como o despejo de esgoto ou a construção de marinas e píeres, podem agravar o estresse nos recifes e aumentar o risco de branqueamento”, detalha a bióloga marinha Gabriela Vergara, do Rio de Janeiro.
Segundo ela, esses fatores reduzem a oxigenação da água e bloqueiam a luz necessária para as algas que vivem nos corais, comprometendo a sobrevivência dos recifes.
Resistência e adaptação dos corais
Nem todos os corais reagem da mesma forma ao calor. Algumas espécies conseguem suportar temperaturas mais altas sem perder as algas simbióticas, mantendo o equilíbrio necessário para sobreviver.
O fenômeno está ligado à plasticidade simbiótica, que é a capacidade do coral de trocar suas algas por outras mais tolerantes ao calor. Assim, mesmo sob estresse térmico, o organismo continua recebendo parte da energia necessária por meio da fotossíntese.
Os “super corais” são um exemplo dessa adaptação: eles conseguem resistir a condições extremas, como águas mais quentes e ácidas, e têm sido estudados por cientistas que buscam entender quais mecanismos garantem essa resiliência.
Mesmo pequenas elevações na temperatura da água podem romper o equilíbrio entre corais e algas, deixando os recifes mais vulneráveis ao branqueamento
Consequências na biodiversidade e pesca
Os recifes sustentam grande parte da vida marinha, servindo de abrigo, local de reprodução e alimento para diversas espécies. A perda desses ecossistemas compromete peixes, moluscos e outros organismos, além de afetar comunidades humanas que dependem da pesca e do turismo costeiro.
“O aquecimento dos oceanos não afeta apenas os corais, mas altera correntes, concentrações de oxigênio e a distribuição de espécies, modificando toda a estrutura ecológica e econômica das regiões costeiras”, explica a meteorologista Andrea Ramos, de Brasília.
Estratégias de preservação e monitoramento
Medidas de preservação incluem controle da poluição, gestão do turismo, restauração de espécies e proteção de ecossistemas costeiros. A redução global das emissões de gases de efeito estufa e a transição para energias renováveis também são fundamentais.
Além disso, redes de monitoramento ajudam a identificar áreas em risco, acompanhar episódios de branqueamento e orientar ações de conservação.
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