À medida que líderes globais se dirigem a Belém para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), um novo relatório da ONU indica que o planeta ultrapassará de forma definitiva uma temperatura média de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais já na próxima década.
Os signatários do Acordo de Paris de 2015 concordaram em limitar o aumento das temperaturas a no máximo 2 °C acima dos níveis pré-industriais, com esforços para barrar o aumento a 1,5 °C.
Tendo como pano de fundo o aumento das temperaturas que marcou 2024 como o ano mais quente já registrado, o mais recente Relatório sobre a Lacuna de Emissões do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA/UNEP), publicado nesta terça-feira (4/11), afirma que a previsão de aumento da temperatura global ao longo deste século caiu apenas ligeiramente, “deixando o mundo no caminho de um sério aumento dos riscos climáticos”.
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O relatório da ONU apresenta uma perspectiva ligeiramente mais otimista do que nos anos anteriores. As estimativas atuais sugerem um aquecimento entre 2,3 e 2,5 °C até o final do século – supondo que todas as promessas climáticas nacionais sejam totalmente implementadas. A projeção do ano passado era de 2,6 a 2,8 °C.
Contudo, se as metas não forem cumpridas e os países mantiverem a política climática atual, estará na verdade a caminho de 2,8 graus de aquecimento até 2100. O PNUMA observa que a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris acrescenta cerca de 0,1 °C ao total.
Ponto de não retorno?
Esse aumento de temperatura seria “difícil de reverter” e exigiria reduções adicionais drásticas nas emissões de gases de efeito estufa geradas pela queima de petróleo, gás e carvão.
A chefe do PNUMA, Inger Andersen, afirmou que “embora os planos climáticos nacionais tenham proporcionado algum progresso, este está muito aquém do necessário”, acrescentando que as soluções já existem.
“Desde o rápido crescimento da energia renovável barata até o enfrentamento das emissões de metano, sabemos o que precisa ser feito. Ainda precisamos de cortes de emissões dentro de uma janela cada vez mais apertada, com um cenário geopolítico cada vez mais desafiador”, disse.
“Ações que proporcionem crescimento econômico mais rápido, melhor saúde humana, mais empregos, segurança energética e resiliência”, pontua Inger.
Progresso foi feito na última década
Antes do Acordo de Paris ser firmado há dez anos, as previsões de aumento de temperatura até o final do século eram de até 3,5 °C.
Ao substituir o carvão por energias renováveis na geração de eletricidade, alguns países já conseguiram reduzir significativamente as emissões de CO₂. Ao mesmo tempo, o consumo global de combustíveis fósseis e as emissões associadas bateram um novo recorde. Em 2024, cresceram 2,3% em relação ao ano anterior.
O relatório afirma que a única maneira de limitar o aquecimento global a 1,5°C até 2100 seria cortar as emissões em mais de 55% até 2035. E isso exigiria reduções radicais e rápidas nos gases de efeito estufa.
Mesmo que houvesse “ações rápidas de mitigação a partir de 2025”, o mundo limitaria a meta de 1,5°C em cerca de 0,3 grau nas próximas décadas. Isso exigiria cortar emissões em 46% até 2035.
Embora a tarefa seja vista como inviável diante do atual contexto, o progresso obtido nos dez anos desde que o Acordo de Paris entrou em vigor mostra que uma redução drástica das emissões é “possível e desejável”, escrevem os autores.
Reduzir emissões continua sendo crucial
O relatório alerta para o impacto de não manter o aumento da temperatura global sob controle. “Cada fração de grau evitada reduz a escalada de danos, perdas e impactos na saúde que afetam todas as nações – atingindo os mais pobres e vulneráveis com mais força”, escreveram os autores.
O aquecimento descontrolado também aumenta o risco de acionar pontos de inflexão climática, que podem levar a mudanças climáticas abruptas e irreversíveis.
Os autores da ONU também enfatizam as vantagens e oportunidades de medidas aceleradas de proteção climática para o crescimento econômico, novos empregos e segurança energética. As tecnologias necessárias de baixo carbono estão disponíveis, e o crescimento da energia eólica e solar continua superando expectativas e reduzindo os custos de energia.
Segundo o relatório, atingir os cortes necessários de emissões exige superar obstáculos políticos e técnicos, bem como fornecer um aumento sem precedentes no apoio aos países em desenvolvimento.
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