A busca por exoplanetas capazes de abrigar vida é uma das missões mais fascinantes da astronomia moderna. A pergunta “estamos sozinhos aqui na Terra?” impulsiona astrônomos e biólogos a investigar mundos fora do Sistema Solar que possam reunir as condições necessárias para o surgimento, ou sustentação, de organismos vivos, ainda que microscópicos.
O objetivo dessa investigação não é discutir planos de colonização, mas sim de compreender se a vida pode se desenvolver em mundos distantes. Para isso, os cientistas buscam planetas que orbitam na chamada zona habitável, a região em torno de uma estrela onde as temperaturas permitem a presença de água líquida na superfície.
A composição atmosférica, o tipo de estrela e a estabilidade da órbita também são fatores determinantes para saber se um exoplaneta pode abrigar vida.
Quais os exoplanetas mais promissores a abrigar vida?
Atualmente, já são conhecidos mais de 6 mil exoplanetas confirmados, segundo o Exoplanet Archive da NASA (2025). Porém, apenas alguns deles reúnem características realmente favoráveis à habitabilidade. A seguir, conheça os candidatos mais promissores e os desafios que cada um apresenta.
Proxima Centauri b, o vizinho mais próximo
Localização: orbita a estrela anã vermelha Proxima Centauri, a apenas 4,2 anos-luz da Terra, nossa estrela vizinha mais próxima.
Características: planeta rochoso, com massa cerca de 1,17 vez a da Terra, posicionado na zona habitável de sua estrela.
Por que pode abrigar vida: sua proximidade e posição ideal permitem que possa existir água líquida, desde que possua uma atmosfera que distribua o calor entre o lado diurno e noturno. A possibilidade de uma atmosfera que redistribua calor poderia mitigar os efeitos de sua rotação sincronizada (onde um lado é sempre dia e o outro, noite).
Desafios: segundo a NASA Exoplanet Exploration Program, Proxima Centauri é uma estrela altamente ativa, emitindo fortes rajadas de radiação ultravioleta e raios X. Sem um campo magnético robusto, essa radiação pode ter erodido a atmosfera do planeta e inviabilizado condições de vida superficial.
TRAPPIST-1e, a joia do sistema superpovoado
Localização: a cerca de 40 anos-luz de distância, no sistema TRAPPIST-1, que abriga sete planetas rochosos semelhantes à Terra.
Características: TRAPPIST-1e é o quarto planeta a partir da estrela e possui tamanho, densidade e fluxo de radiação comparáveis aos da Terra.
Por que pode abrigar vida: dados obtidos pelos telescópios Spitzer e James Webb indicam que é um planeta rochoso, com possível núcleo metálico e temperaturas amenas. Recebe uma quantidade de luz parecida com a que a Terra recebe do Sol, o que aumenta suas chances de abrigar vida.
Desafios: as anãs vermelhas, como TRAPPIST-1, emitem erupções intensas que podem dificultar a manutenção de uma atmosfera estável. Além disso, o planeta provavelmente tem rotação sincronizada, o que cria extremos de temperatura entre o lado diurno e o noturno.
Kepler-186f, o pioneiro habitável
Localização: a aproximadamente 500 anos-luz, na constelação de Cygnus, descoberta pela missão Kepler da NASA.
Características: planeta com 10% mais diâmetro que a Terra, orbitando dentro da zona habitável de sua estrela anã vermelha.
Por que pode abrigar vida: foi o primeiro exoplaneta de tamanho terrestre descoberto na zona habitável de uma estrela, o que provou que mundos como o nosso são comuns. A estrela de Kepler-186 é mais estável que muitas anãs vermelhas, o que aumenta as chances de uma atmosfera duradoura.
Desafios: por estar na borda externa da zona habitável, pode ser um mundo mais frio. Sua gravidade mais forte também influenciaria a evolução de eventuais formas de vida. Até o momento, não há dados sobre sua atmosfera, o que limita as conclusões.
K2-18b, um mundo de água e hidrogênio
Localização: orbita a estrela anã vermelha K2-18, a 124 anos-luz da Terra, na constelação de Leo.
Características: planeta classificado como uma “super-Terra” ou “mini Netuno”, com raio 2,6 vezes maior que o da Terra e atmosfera rica em hidrogênio.
Por que pode abrigar vida: observações recentes do Telescópio Espacial James Webb detectaram vapor d’água e dióxido de carbono, e sugeriram a possível presença de sulfeto de dimetila (DMS), uma molécula que, na Terra, é produzida apenas por organismos vivos marinhos. Isso levou a hipótese de que K2-18b seja um “mundo Hycean”, com um oceano global sob uma densa atmosfera.
Desafios: a alta pressão e temperatura sob uma atmosfera espessa de hidrogênio podem tornar a superfície inóspita. A própria NASA destaca que ainda é cedo para confirmar se o planeta é realmente habitável – os sinais químicos ainda precisam de confirmação independente.
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O futuro da busca por vida fora da Terra
A busca por um exoplaneta que possa abrigar vida está longe de terminar. Cada novo candidato ajuda a refinar os critérios do que realmente significa ser “habitável”.
Nos próximos anos, telescópios como o James Webb, o Extremely Large Telescope (ESO) e o futuro LUVOIR (NASA/ESA) vão analisar atmosferas em busca de bioassinaturas, gases como oxigênio, metano e ozônio, que podem indicar processos biológicos.
Encontrar vida fora da Terra pode levar décadas ou acontecer em nossa geração. De qualquer forma, cada descoberta nos aproxima da resposta para uma das perguntas mais antigas e universais: “estamos sozinhos no cosmos?”
Fontes: Nasa, ESA / Hubble & James Webb data releases (2023–2024), European Southern Observatory (ESO) – ELT Mission Briefs
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